Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.
Haicai, haikai ou haiku é um pequeno poema de origem
japonesa com aspecto formal de três versos. O primeiro verso tem cinco sílabas
poéticas; o segundo sete e o terceiro cinco. A tradição nipônica faz com verso
branco e métrica perfeita, mas, no Brasil, tanto é praticado com verso livre
quanto rimado (eu gosto mais assim), sobretudo por Millôr Fernandes. Aqui, no
Amazonas, há muito haicaístas, como Luiz Bacelar e Zemaria Pinto, que foi meu
professor. A idéia central do haicai é paisagística e filosófica, porém os
brasileiros abordam temas diversos, por exemplo, político,
humorístico. O pioneiro em fazer haicai foi Matsuô Bashô (1644-1694),
que se dedicou a fazer dele uma prática espiritual.
A seguir, vou dar exemplos de haicais de autores diversos e depois os meus.
Luar de agosto.
No alheio telhado ao lado
concerto de gatos.
(Luiz Bacellar)
Noite de piracema.
A lua indiscreta mostra
a rota do cardume.
(Luiz Bacellar)
(Zemaria Pinto)
asas da manhã
flutuando à luz difusa
na pele do vento
flutuando à luz difusa
na pele do vento
(Zemaria Pinto)
Doente
da viagem,
Meus sonhos perambulam
Pelo campo seco.
Meus sonhos perambulam
Pelo campo seco.
(Matsuô
Bashô)
Crisântemo
branco –
Sequer um grão de poeira
Ao alcance dos olhos.
Sequer um grão de poeira
Ao alcance dos olhos.
(Matsuô
Bashô).
Que reflete.
(Millôr Fernandes
Nas pistas
Aviões cheios
De arrivistas.
(Millor Fernandes)
soprando esse bambu
só tiro
o que lhe deu o vento.
só tiro
o que lhe deu o vento.
(Paulo Leminsk)
nada me demove
ainda vou ser o pai
dos irmaos Karamazov.
ainda vou ser o pai
dos irmaos Karamazov.
(Paulo Leminsk)
E agora os meus:
Na seca,
urubu
Tem que
comer até fruto
De
mandacaru.
Fogo na
floresta
Destrói todo
manto verde
E só cinza
resta.
A
coroa-de-frade
É muito mais
importante
Que a coroa
de abade.
É um pêlo
chique,
Que cresce
no verão (a barba
Do chique-chique).
A esse
Fujicida
Não irei
enquanto ainda tiver
Muito amor à
vida.
Estrela
cadente,
Tenho um
pequeno pedido:
Que eu fique
contente!
Em pleno
arrebol,
Numa tarde
de verão,
Veio chuva
com sol.
Ah, que
formosura,
Tamanduá-bandeira
come
Também
tanajura!
Tigre-de-bengala
Pede
clemência igualmente
Ao ursinho
coala.
Sofre o
caranguejo
Quando o Mar
briga com a
Praia, eu sempre vejo.
Formiga com
asa
(Sinal de
sua liberdade
p´ra fugir
de casa).
Após sol-com-chuva,
Houve revoada, em nuvem,
De alada
saúva.
Como
camicase,
A formiga,
quando quer
Se perder,
cria-se asa.
Semelhante
ao jarro,
O besouro
faz sua casa
Somente com
barro.
O Céu
estrelado
Me imbui de
verve que fico
Mui
refestelado.
Na chuva com
sol,
Fica mais
viçosa e viva
Flor de
girassol.
Café-da-manhã
Da libélula
é larva
Do carapanã.
Plaina com
estilo
De árvore,
em árvore,
Um alado
esquilo.
A chuva de
abril
Faz
desabrochar a flor
Do pé de
abiu.
É num
simples ato
Que a cobra
dá fatal bote
No indefeso rato.
Chuva
torrencial...
Os
batráquios começam
O ensaio musical.
No sol da
manhã,
O bem-ti-vi
canta no
Pé de tucumã.