O Brasil realmente é
Como um País de faz-de-conta.
Desde sua descoberta,
Que os gestores tudo aprontam
Confiantes na impunidade,
Mas o povo paga a conta.
*
Já Pero Vaz de Caminha,
O escrivão e descobridor,
Relatando o achado ao Rei,
Pedira um grande favor,
Para promover seu genro,
Sem cerimônia e pudor.
*
Dono da Capitania
Sentia-se seu donatário:
Sem prestar conta a ninguém
Com regime autoritário,
Pois sua sucessão era por
Sistema hereditário.
*
O País pouco progrediu
Com esse sistema falido,
Porém quem pagou pelo erro
Foi o povo muito sofrido.
Todavia seu donatário
Saiu-se mais enriquecido.
*
O Governador-Geral,
Chamado de Vice-Rei,
Pouco ou quase nada fez:
Agia conforme sua lei;
Só governava a Bahia,
Auxiliado por sua grei.
*
Nepotismo esclarecido
E malversação total
Foi nossa característica
Desde a fase colonial.
Neste tipo de governo,
A corrupção foi geral.
*
E com a família real,
A esbórnia se exacerbou:
Gastava o dinheiro público,
Seja qual fosse o valor
E sempre aumentava o imposto
Quando o auso não era a favor.
*
Já chegou com comitiva
Feita de bajulador;
Tinha garantia do Rei
De lhes fazer mui favor:
Terra e auxílio pecuniário
Para ter o seu labor.
*
O Rei era o dono de tudo
E geria a seu bel-prazer,
Decidia até quem vivia
E também quem ia morrer.
Quando sobre algo decidia,
Nada se podia fazer.
*
E com Dom Pedro Primeiro,
O primeiro imperador,
Existiam os três poderes
E o Poder Moderador
Para vetar decisões
Que não eram a seu favor.
*
Só se ocupava com farra
E conquistar mais amante;
Não pensava no progresso
Do Brasil nenhum instante
E como administrador,
Foi péssimo governante.
*
E ainda entregou o Brasil a
Um imperador-menino,
Que nem podia se cuidar
Nem de nada tinha atino
E já começou a traçar
Esse nosso mau destino.
*
O segundo imperador
Gostava muito de viagem:
Não p’ra levar a outros países
Nosso interesse e mensagem,
Porém para com os seus
Ídolos fazer tietagem.
*
Somente se interessava
Pela filosofia e ciência;
Com nossos problemas públicos
Nunca tivera paciência.
O que realmente imperava
Em tudo era a ineficiência.
*
Com o advento da república
Como estava, continuou:
Privilégios para os ricos
E para os pobres piorou;
Nem mesmo p’ra os ex-escravos
A situação melhorou.
*
Os órgãos de faz-de-conta
Já tinham sido formados
Para melhorar a vida
Dos mui mal intencionados:
Como desviar verbas públicas
E explorar os humilhados.
*
O Poder Executivo,
Gerido por Presidente,
É o maior exemplo de
Instituição incompetente,
Pois só serve p’ra pilhar
O erário com clã e parente.
*
Repartem o País conforme
Aliado e partidarismo
Sem sequer se preocupar
Com nosso funcionalismo,
Que aumenta a cada dia para
Atender fisiologismo.
*
Ele só se preocupa em
Viajar, prorrogar mandato,
Negar as denúncias feitas
Contra quem ele tem trato
E até mesmo defender
Quem cometeu estelionato.
*
O Congresso Nacional,
Símbolo de ineficiência,
É também exemplo de
Nosso atraso e incompetência.
O País progrediria muito
Mais com a sua inexistência.
*
Só tem, mesmo, serventia
Para obter impunidade
P’ra quem tiver envolvido
Com a criminalidade,
Pois precisa se eleger
Para ter imunidade.
*
Todos nós sabemos que,
Quando o indolente Congresso
Vai votar um importante
E necessário processo,
Procura um jeito de adiar
Ou de entrar logo em recesso.
*
Só tem a preocupação
Com seu salário aumentar.
Mesmo já ganhando muito
E o povo disso falar,
Querem até aumento da
Sua verba parlamentar.
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Só legisla em causa própria
Nosso Poder Judiciário
Para aumentar as vantagens
Do seu já gordo salário
Sem nos dar satisfação
Desse hábito arbitrário.
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Um órgão de faz-de-conta
Que nunca ninguém condena.
Se chegar a condenar,
Jamais cumpre toda pena,
Pois as leis são ultrapassadas
E a sentença é pequena.
*
Somente funciona para
Quem pretende andar na linha;
Só se preocupa com as
Questões de pequena rinha,
Mas ele é implacável
Com o ladrão de galinha.
*
A justiça brasileira
Não funciona nem no tranco.
Só pune pequenos crimes
Como roubo ou assalto a banco,
Mas uns nunca pune, como
Os de colarinho-branco.
*
Se entrar na justiça para
Pedir indenização,
Tem que ter muita paciência
P’ra esperar a decisão,
Pois quem receberá é
A terceira geração.
*
O sistema de justiça
É realmente um caso sério:
Há tantos recursos que
Parece não ter critério;
Como anda tão lentamente,
Mais parece um megatério
*
Nossos Tribunais de Contas
Contam piada de mau gosto.
Não contam nem fiscalizam.
Sua função é um desgosto
Se encontrarem algo errado,
Simplesmente viram o rosto.
*
Próprio em país de faz-de-conta
Feitos p’ra não funcionar,
Pois são feitos por pessoas
Que têm de fiscalizar,
Que nomeiam seus partidários
P’ra seus gastos aprovar.
*
O sistema de polícia
É algo que nem se fala,
Faz de conta que existe;
Se alguém chamar, nem se abala,
E se vier, é atrasada,
E em todos mandando bala.
*
Só consegue resolver
Um por cento de homicídio;
Está preocupada com
Salário, bônus, dissídio;
Somente está preparada
Para resolver suicídio.
*
É pra combater o crime,
Que independe de salário,
Mas com proteção do Estado,
Age de modo arbitrário.
E ao invés de a lei defender,
Ela faz é o contrário.
*
Se alguém vai para polícia,
É com segunda intenção:
Vai com intuito em obter
Vantagem co’a outra função,
Que é usar o Estado
P’ra extorquir o cidadão.
*
Nosso sistema de saúde
Há muito tempo está doente;
Não há remédio nem médico
Para atender o paciente.
No corredor (gente morre)
Deste sistema indolente.
*
O dinheiro da saúde
Está depositado em Berna;
É por isso que essa crise
Para muitos é eterna.
Se você sofrer um arranhão,
Querem é cortar sua perna.
*
P’ra marcar uma consulta,
Leva mais de um mês,
E ainda tem de chegar cedo
Para aguardar a sua vez.
Se perguntar se será
Atendido, ouve um talvez.
*
Se uma pessoa ficar doente,
For procurar um doutor,
Vai logo é lhe aplicando
Uma injeção para dor;
E se alguém for reclamar
Dizem: “faço-lhe um favor”
*
Quando tiver um problema,
Que só resolve no SUS,
É necessário passar
Pelo caminho da cruz;
É mais fácil rezar ou
Apelar para Jesus.
*
A situação chegou a ponto
De o doutor ter que escolher
O paciente mais grave para
Ele poder atender,
Porém, se os outros piorarem,
Com certeza vão morrer.
*
A saúde está muito doente,
Tem que levá-la p’ra UTI;
Porém ninguém a socorre:
O que faz é só mentir.
Vamos assistindo à míngua
Ao nosso povo partir.
*
O sistema educativo
Há tempo ninguém educa
Porque a metodologia
Está é mais que caduca;
O estudante só aprende
Se tiver uma boa cuca.
*
Gasta-se muito dinheiro,
Mas com desvios e desperdício.
A escola se sucateia,
Reprovação virou vicio.
Todos sabemos que o ensino
Em nosso País é fictício.
*
O aluno não aprende física,
Geografia nem matemática,
História, biologia, química,
Sociologia, informática
Nem falar, ler e escrever
Conforme nossa gramática.
*
E nas competições de
Âmbito internacional,
Nosso aluno nos envergonha
Com esse ensino imoral;
Vê-se que está precisando
É voltar para o MOBRAL.
*
Sendo assim, o Executivo
Finge que vai governar;
O Congresso Nacional
Finge que vai legislar
E o Poder Judiciário
Finge que vai condenar.
*
O médico finge que cura,
A polícia finge que prende,
Professor finge que ensina,
O aluno finge que aprende,
O cidadão quer consulta
E o INSS finge que atende.
Manaus, 07/04/09
Bento Sales.
Fiz esse cordel para me desabafar de todo mal que nossas instituições nos fazem.
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