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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O acidente

Márcio sempre ia ao bar no centro da cidade beber com amigos e namorada ou pretendente depois da faculdade e ficavam bebendo, sobretudo vinho até altas horas. Neste dia, ele foi sem namorada nem pretendente num bar localizado na Rua 10 de julho. Havia um grupo semelhante ao lado. Estava uma moça entre eles que bebia desbragadamente e percebeu que eu a estava paquerando de soslaio. Ela correspondeu. Ao mudar de foco por um instante, ela se sentou no seu lado:
- Oi, tudo bem?
-Tudo bem?
- O que está tomando?
- Vinho. Quer um pouco?
- Sim. Quero muito!
- Está acompanhado?
- Agora estou.
- E você?
- Agora estou também.
- Como é teu nome?
- Márcio.
- O meu é Jana.
Depois disso, namoraram e beberam até três horas da manhã. O dono do bar pediu-lhes desculpas por ter que fechar. Os dois grupos se juntaram e decidiram procurar outro bar aberto. Eram sete pessoas. Estavam meio ébrios. Outros, meio sóbrios. Andaram rua a cima no silêncio da madrugada; os dois abraçados no meio da rua e os demais na calçada e na lateral. Encontraram uma certidão de casamento em branco. Eles brincaram de casar com juramento de amor com assinatura e tudo. Jana é uma mulher muito moderna no pensar e agir em relação ao Márcio. Além de ser mais velha (dois anos), é bem mais vivida, tem um filho de dois anos. Ele é pacato, recatado, tímido e de pouco experiência amorosa. Já ela tem a mente aberta para todos os sentidos: ela é o que se pode dizer que é pansexual. Ele gostou dela justamente por causo disso. Com ela, ele se realiza plenamente. Ela toma psicotrópicos. Foi amor à primeira vista.
Quando chegaram próximo à Praça São Sebastião, ela pediu que ele a soltasse e fosse pela calçada. Ele olhou para frente e para trás, mas não viu ninguém nem nada. Por isso não entendeu a atitude. Ela, então ordenou:
- Saia já daqui!
Ele saiu rapidamente. Foi para calçada. Talvez fosse uma premonição. Repentinamente, ouviu um barulho de pancada. O olhou na direção, viu Jana girando no ar como uma hélice até cair no meio da rua. Alguém da turma gritou:
- Um carro a atropelou!
Todos correram para socorrê-la. Esta em estado lastimável: arranhada, machucado, cheia de hematoma, rosto desfigurado, pé quebrado e em delíquio. Logo chamaram táxi e a levaram para um pronto-socorro. Foram à delegacia para registrar o acidente, porém não houve dados suficientes para identificar o veículo nem sequer anotaram o número da placa: alguns sugeriram verificar se as câmaras do Teatro Amazonas registraram a cena, mas nada. Mais um crime impune. Depois todos foram para casa. O Sol já anunciava sua chegada. Márcio contou tudo para sua mãe; ela ficou preocupadíssima. No dia seguinte à tarde, foi visitá-la. Já estava bem melhor. Ela disse que só houve a fratura do pé e que daqui a uns cinco dias receberia alta. Enquanto isso, seu ex-marido soube e foi vê-la. Acabaram se reconciliando. Márcio, mesmo assim, ficou amigo dela com esperança de reatarem no futuro. Jana teve seqüelas fenotípicas: manca de um pé. Outrossim, perdeu um sentido: olfato. Passado algum tempo, voltaram a se encontrar e acabaram morando juntos. Até quanto se sabe vivem bem e felizes.
Bento Sales
16/07/2007.

4 comentários:

  1. Cara que legal o modo como escreve.
    Muito bom seu blog.

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  2. Ei! Muito obrigada. Agradeço mesmo que tenha gostado do meu blog.
    Gostei de suas escritas. Passo a ser seguidora aqui também.
    Grande abraço.

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  3. http://castanho-souassim.blogspot.com/2010/12/blog-amigo.html

    Veja lá,tem um selo pra você.

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  4. Adorei a forma que se expressa em teus textos.
    Parabéns, faço um convite a visitar o meu.
    http://humornegrosemcensura.blogspot.com/
    Abraços e Ótima semana!

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