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domingo, 24 de junho de 2012

Haicai 9

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.



Haicai, haikai ou haiku é um pequeno poema de origem japonesa  que surgiu no século XVII com Matsuo Bashô e Kobayashi Issa. É caracterizado pela condensação, temática paisagística e estações do ano;  a forma tradicional é sem rima ou sem título e é constituído com 5-7-5 sílabas poéticas:
   1       2       3     4   5
Eu e/ meu a/que/ce/dor –
 1    2   3      4   5      6      7
Lá/ fo/ra o/ Se/nhor/ do/ Feu/do
  1     2      3      4   5
Pas/san/do en/so/pa/do.
(Issa).

Chegou ao Brasil no fim do século XIX, é praticado em todo país com peculiaridades, como rima, métrica livre, descrevendo temas diversos. Temos bons praticantes do haicai, como Millôr Fernandes, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Bacellar, Zemaria Pinto, Aníbal Beça, Guilherme de Almeida e muitos outros. A seguir, darei exemplos de haicais de diversos autores e após os meus. Quero agradecer a amiga Elisa T. Campos do blog  Pintando Haikai                             e o grande amigo Cristiano Marcell do blog  Haicai e Não Machuca por ter me cedido seus maravilhosos haicais para esta postagem.
Ontem, vagalumes
Cobriam todo o caminho
Que tens sob os pés.
(Issa)

Sem guarda-chuva
E sob a chuva de inverno –
Bem, bem.
(Bashô)

Usucapião
É contemplar as nuvens
Do próprio chão.
(Millôr)

Chuva de verão,
Cores: sorriso de flores
Que as macieiras dão.
(Luiz Bacellar)

Brisa ao vento
Mareando o meu olhar
Em busca de poesia.
(Elisa T. Campos)

Bravo e ímpio
Homem branco não sabe
Nada do índio.
(Cristiano Marcell)

E agora os meus haicais:

Não perde a coroa
O abacaxi p’ra viver
Assim tão à toa.

A nave hoje parte
Para ver se ainda há vida
No Planeta Marte.

Ao olhar o Universo,
Tive uma inspiração para
Fazer este verso.

Acordei com sol
Me aquecendo a boca pela
Brecha do lençol.

Formiga não casa,
Mas quando quer se perder,
Geralmente cria asa.

Explosão solar,
É tão intensa que ninguém
Pode calcular.

A ave do paraíso
Alegra toda floresta
Com dança e sorriso.

Ao comer paçoca,
O curumim foi picado
Pela muriçoca.

Vestida de rengue
A cunhatã foi picada,
Contraindo, assim, dengue.

O buraco negro
Suga tudo ao seu redor
Como faz um bueiro.


Estou no blog de minha amiga Cissa,  HumorEmConto  onde, gentilmente, publica meus haicais. 
Ela é exímia  cronista e excelente contista. Vale muito a pena dar uma conferida em seu link. 

sábado, 9 de junho de 2012

Natureza-mãe e o homem

Desenho de Taciane, minha filha com seis.

A natureza,
Com certeza
Me dá o Ar
Para eu respirar,
A Água para eu beber,
O Sol para me luminar,
A Terra para eu viver,
O Fogo para cozer meu alimento,
A Vida neste momento.
Eu sou filho dela,
Ela cuida de mim,
É uma mãe bela,
Devo-lhe respeito, dedicação sim!
Não posso deixar que meu egoísmo
Interrompa seu continuísmo
De vida permanente,
Decepando seus membros,
Mutilando sua biosfera.
Seu coração se dilacera.
Nós, humanos, agimos irracionalmente,
Já os animais, racionalmente:
Os animais constroem;
Os homens destroem
O meio-ambiente
De forma consciente
E imprudente.
Nós poluímos a Fauna, a Flora,
O Ar,
O Mar,
A Biologia,
A Ecologia.
Somos vírus geográficos,
Hidrográficos,
Pneumáticos.
De forma suicida,
Matamos a Vida.


Bento Sales

                                                 
          Fiz este poema para meu sobrinho, na época com dez anos, para apresentar como trabalho na escola sobre o papel (maléfico) do homem na natureza.                                                                           
                                                                                                        

sábado, 2 de junho de 2012

A TRAGÉDIA

Pintura de Taciane, minha filha de seis anos, então com cinco.


           Alexandre casou-se com Helena, sua vizinha e amiga de infância. Eles foram morar na capital, uma vez que, no interior, não havia oportunidade de estudo nem de trabalho para ambos. Ficaram um tempo na casa de um contraparente até conseguirem emprego para poder alugar uma casa, o que não demorou muito para acontecer. Empregou-se numa empresa no Distrito Industrial da cidade, em turno noturno. Ela começou a fazer curso pré-vestibular. Neste ínterim, seu irmão Amaral, gêmeo univitelino e primogênito (nascera cinco minutos antes que Alexandre) decidiu também ir para a cidade grande com o mesmo intuito do irmão. Ele também fora amigo de infância de Helena. Foi o primeiro namorado dela e, outrossim, trocaram juras de amor eterno. Mas ela se apaixonou mesmo foi pelo Alexandre; o que sentia pelo Amaral ficou latente. A princípio, ela estava confusa em relação ao que mais gostava, porém, com o tempo e convivência, identificou-se mais com Alexandre, talvez por ser mais ativo e atencioso. Os gêmeos nunca tinham ficado mais de um mês separados. Sentiam falta um do outro, às vezes, competiam entre si, mas sempre um cedia em prol do outro; houve ocasião em que um sentia quando o outro estava doente.
            Alexandre prontamente atendeu ao pedido do irmão de morar com ele. Empregou-se numa empresa de computação em horário comercial. Alexandre, a princípio, ficou meio cioso, uma vez que ele passava a noite trabalhando e Amaral, não.  Os dois ficariam sós neste ínterim, mas achou que tinha que confiar nela (e nele). Passaram-se meses vivendo bem e tranquilamente, sem nenhuma desconfiança. A vizinhança nunca desconfiou que fossem dois: achava que ele tinha dois empregos e isso era bom porque não causaria comentários maldosos. Porém, depois de algum tempo, Alexandre percebeu que Helena estava muito carinhosa com ele e não falava diretamente com Amaral e este não conversava com ele tête-à-tête. Ficou apreensivo, mas disfarçou. Pensou numa maneira de flagrar os dois. Trocou de turno com um colega de trabalho, saiu como se fosse trabalhar normalmente. Era num sábado, Amaral tinha expediente até meio-dia. Por volta de meia-noite, ele foi até a casa, entrou sorrateiramente, seguiu um gemido arfante que vinha do quarto; a porta estava entreaberta, ele viu tudo, ficou sem ação, sentiu vontade de matá-los, mas os amava. Saiu para o quintal sob um brilho de Lua cheia. Apenas o cricrilar dos insetos quebrava o silêncio. Foi para a penumbra do jambeiro e chorou copiosamente. Olhou para cima e viu os galhos grossos em forquilhas.
            Passou-se algum tempo, Amaral foi tomar banho e viu a porta dos fundos aberta, ficou assustado pensando que fosse ladrão. Sem acender a lâmpada, saiu, viu um vulto de uma pessoa pendurada no galho. Voltou e acendeu a luz. Teve um grande choque quando percebera quem era. Deu um grito de desespero, sentiu remorso, culpa, sentiu-se culpado, sem voz. Helena ouviu e correu na direção. Quando chegou lá, viu a cena funesta: o marido jazido no chão e o cunhado e amante dependurado numa corda amarrada no jambeiro. Ela se julgou criminosa e caiu em prantos tão desesperada que não lagrimava. Beijou o marido, pediu-lhe perdão, depois, olhou para uma ponta da corda que sobrava, subiu na árvore, fez um laço, pôs no pescoço e se jogou.


Esse conto é uma reedição, eu o reponho por ser um dos primeiros que publiquei, aqui, no blog e em razão de ser uma predileção minha.  Apesar de trágico, é uma ficção.