Total de visualizações de página

333,224

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Soneto de fidelidade






De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinícius de Moraes

sábado, 25 de setembro de 2010

Alma minha


Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te
quão cedo de meus olhos te levou.
(Luís de Camões)

sábado, 18 de setembro de 2010

Teoria de tudo


Ao norte está o caminho estreito.
Ao sul o caminho largo.
Ao leste tem-se o portão de acesso à justiça
Com o guardião.
Ao oeste a estrada aberta da esterilidade.
Entrando na esterilidade
Encontra-se logo na primeira coisa
A teoria do tudo.
A esterilidade comporta o tudo.
Lá, e somente lá,
Qualquer marginal tem infinitas teorias
Para explicar ações
E defender a razão.


Inácio Frota

A cada canto

Soneto

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
  
Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
 
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
  
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
  
Gregório de Matos Guerra