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quarta-feira, 9 de março de 2011

A casa

Desenho de Taciane, minha filha de cinco anos.


            Depois de economizar durante quinze anos, o marido conseguiu comprar uma casa de seu intuito: boa localidade, amplo terreno, pátio, precisando de pouca reforma. O casal morou cinco anos no alto da residência de sua irmã, onde tinha, ficticiamente, parte, pois ajudou a comprá-la juntamente com seus dois irmãos. Havia, por parte da esposa, um certo desconforto porque toda mudança ou reforma teria que passar pela aprovação da cunhada. Ela vivia pressionando o marido para saírem de porque estava aborrecida com essa situação, mas ele sempre foi um homem prático e arrazoado: pedia-lhe paciência para que juntasse mais dinheiro para comprar uma casa melhor. Ela aceitava por um tempo, todavia voltava insistir. Deliberaram procurar a casa para ter idéia de preço. Quando gostava de uma, o valor era muito além do que tinham e ainda precisava de reforma. Ficaram nisso durante dois anos. Enfim, encontraram a casa dos seus sonhos. Quando a esposa olhou a documentação, viu uma certidão de óbito da proprietária predecessora. Incontinentimente ela ficou preocupada e, sobretudo, arrependida de ter comprado a casa. Pediu para desfazer o negócio, mas ao ler o contrato, ele viu que continha uma cláusula referente ao arrependimento, que o arrependido teria que pagar uma multa de trinta por cento, o que tornava inviável a aquisição de outra iminentemente. Pediu, então, para ele investigar se ela falecera na casa, uma vez que na certidão de óbito dizia que a causa mortis foi “grande queimado”. O marido inquiriu o corretor; ele disse que não os conhecia, mas achava que isso ocorreu no centro da cidade. Porém ela não acreditou. Durante reforma de duas semanas, um dos trabalhadores subiu no muro e viu o fundo da casa do vizinho repleto de santo. Quando a esposa foi , ele mostrou para ela. Foi a gota d’água para ela ficar mais preocupada, dizendo que não moraria próximo de um macumbeiro, que isso traria azar, mas não era nada disso, apenas o vizinho colecionava santos. durante a mudança, passaram umas moças próximo ao caminhão de mudança e um dos ajudantes mexeu com elas, uma indagou se havia comprado essa casa, ele afirmou que sim, então ela falou para ter cuidado porque morreram uma criança e a mãe queimadas. O rapaz logo alertou o marido para sua esposa não saber, que ela estava muito perturbada com essa história. Passaram a noite de sábado e o domingo, mas não ouviram nem viram nada de incomum. Na segunda-feira, foi uma equipe representante de uma empresa metalúrgica terminar um serviço de grade pendente e, como morava perto, sabia do ocorrido; contaram para ela com requinte de fofoca. Ela ficou em pânico. Queria sair da casa rapidamente, mas o marido pediu para ela não ligar para isso e que era estória de desocupado ou então de invejoso. Ela suplicou para sair de , porém, ele gostou muito da casa e, mesmo tendo prometido para ela que sairia para não enlouquecer, decidira que não a venderia nem sairia de . A filha do casal, de um ano de idade, ficou à vontade na casa, como se tivesse nascido , talvez por não entender a situação. Ela corria de um lado para outro, gritava, jogava bola, era a verdadeira dona da casa. Não ligava para o acontecido. Isso lhe deu firmeza em sua decisão de permanecer na casa, pois também tinha esperança de ela superar essa história toda e curtir seu novo lar. Era uma residência fascinante. Todo mundo ficava apaixonado por ela (exceto sua esposa).          
            A história consiste no seguinte: no reveillon de dois mil e cinco, o casal chegou de uma festa, de madrugada (provavelmente bêbado), com um casal de adolescente do primeiro casamento do marido e uma menina de três anos, filha da esposa do casamento anterior. Ao dormirem, os adolescentes deixaram ligado um ventilador ou computador ou um quebra-luz, segundo várias fontes contraditórias, então um desses utensílios, incendiou-se, propagando para o forro de madeira e para outros objetos domésticos e demais compartimentos. O esposo, segundo algumas fontes, como dormia em quarto próximo da porta de saída, logo saiu com a mulher, mas ela viu que sua filhinha ainda não havia saído, voltou imediatamente para socorrê-la; os adolescentes estavam presos na suíte, pois o teto era de concreto. Neste ínterim, a vizinhança chamara o bombeiro, mas a casa ardia em chamas e fumaça. A mãe conseguiu sair, mesmo muito queimada, com a filha com poucas queimaduras, mas intoxicada com a fumaça e foram levadas ao pronto-socorro pelos amigos, enquanto os bombeiros combatiam o fogo e resgatavam os adolescentes por um orifício que fizeram na lateral da casa. A criança falecera no caminho do hospital por causa do dióxido de carbono inspirado, e a mãe, horas depois, no hospital, em conseqüência das queimaduras de terceiro grau pelo corpo todo.
            A esposa temia por essas pessoas terem morrido dentro da casa, porém ela investigou com os vizinhos para saber estritamente o que ocorrera e constatou que não morreram . Ficou um tanto aliviada, todavia, ainda muito chocada e nervosa com tudo isso. Era uma mulher repleta de fobia, superstição, dogma e crendice, como nunca se viu. Então ele teve idéia de chamar um padre ou pastor para benzer a casa. Ela aceitou. Um obreiro veio pregar para ela e ungiu a casa com óleo ungido e disse que teriam que fazer um voto e ofertar à igrejaDeus é Amor” e assistir a um culto. Assim eles fizeram. Mas ela nunca superou totalmente esse causo. Queixava-se que a casa era mal falada. Ele dizia que não, as pessoas que são maldosas e por isso falam mal das coisas e dos outros. Ele falava que esse enredo não tinha nada a ver com eles, uma vez que a história deles na casa começou quando se mudaram. O que passou com outra família não lhes interessava. Passou-se um ano e ela, de quando em vez, tinha recaída porque algumas crianças vizinhas vinham brincar com sua filha e relembravam o ocorrido. Passou-se um tempo, o casal conversando sobre a casa, o fato passado. Ela perguntou para ele se tinha visto ou ouvido algo estranho, anormal, assustador, sobrenatural na casa. Ele disse que sim. Ela quis saber o que era porque isso lhe motivaria a sair de , mas ele respondeu que o que lhe assustara foi a fatura de água que deu quinhentos e treze reais e trinta e um centavos, uma verdadeira assombração.


Estou publicando este conto em homenagem à minha amiga Laura Brandão do blog humor negro sem censura, que outro dia publicou sobre assombrações e dia sete deste sobre uma casa mal-assombrada.








5 comentários:

  1. A história é verdadeira?

    Fiquei pensando enquanto lia, sobre um fato que aconteceu comigo uma vez, pude presenciar um acontecimento um tanto quanto anormal, mas que até hoje me intriga. E depois desse, muitas coisas aconteceram em minha vida, não sempre direcionadas a mim, mas com algum tipo de ligação.
    Coincidências ou não, conspiração do universo... tudo muito vago né, mas que mexe muito com a imaginação de todos...
    Abraço e boa noite Bento!

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  2. Aff....
    Pensei que teriamos uma casa maldita.
    Mas não,só um bando de fofoqueiros,falando de uma tragédia.
    Muito bem escrito,sinceramente eu gostei muito.

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  3. Bento, Obrigada por lembrar de mim! *-*
    Eu sou desconfiada com essas coisas, sabe.
    Como eu disse, eu acredito q possa acontecer certos tipos de coisas.
    Principalmente quando a Notícia sái no jornal.
    u.u

    Abraços meu querido e tenha uma Ótima Quinta =*

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  4. Queria poder ver algo assim.
    Algo sobrenatural.
    Teria então a certeza que existe algo maior e alem.
    Obrigado pelo carinho(eu chorei).

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  5. BENTO, FOI BOM FALAR DA CASA, POIS TODOS NOS MORAMOS EM CASAS OU APTOS, SEJA ALUGADO OU PRÓPRIO. GOSTARIA DE SABER SE VOCÊ TEM A HISTÓRIA ATUAL DA MESMA? " VOCÊ TEM ALGUMA HISTÓRIA DE SUA CASA OU CONHECIDOS DEIXE SEU COMENTÁRIO " ATÉ A PRÓXIMA...

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