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domingo, 21 de outubro de 2012

Haicai 10

Pintura de Taciane, minha filha com sete anos, então com cinco.


Como tudo no Japão é diminuto e eficiente, o haicai não uma exceção.
Para quem não conhece, haicai é um pequeno poema de origem japonesa que surgiu no século XVII com Matsuo Bashô, Kobayashi e Issa. É caracterizado pela condensação, temática paisagística e estações do ano.  Valoriza a concisão e a objetividade. Chegou ao Brasil no início do século XX e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos em todos país. No Japão e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku. O Haicai é feito da seguinte forma:

Tem 17 sílabas poéticas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas.
  1  2   3     4    5
Ra/ í /zes/ plan/ta/das
  1    2    3     4    5   6     7
No/ vas/to/ cam/pó/ do/ cor/po
  1   2   3    4   5 
Ca/su/los /de/ so/nhos" (Zemaria Pinto)

Temos bons praticantes do haicai, como Millôr Fernandes, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Bacellar, Zemaria Pinto, Aníbal Beça, Guilherme de Almeida e muitos outros.
Quero agradecer a amiga Elisa T. Campos do blog  Pintando Haikai   e o grande amigo Cristiano Marcell do blog  Haicai e Não Machuca por terem me cedido seus maravilhosos haicais para esta postagem.
Eis alguns exemplos de haicais de vários autores e após, os meus:

Velho tanque
 uma rã salta
barulho d'água
   (Bashô)


com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério
                    (Millôr Fernandes)


quem ri quando goza
é poesia
até quando é prosa
                    (Alice Ruiz)

Me perdi ao olhar
o desanuviar das brumas
gaivotas a bailar. (Elisa T. Campos)

Um voo bonito
parece que estão indo
pro infinito! (Cristiano Marcell)



 E a agora os meus haicais:

  
Vê-se, pelo menos,
Uma estrela deslumbrante
Na aurora: é Vênus.

Dá-me sempre um tédio
A política que não sara
Com nenhum remédio.

Plaina com estilo
De árvore, em árvore,
Um alado esquilo.

Canta mui melhor
À medida que envelhece
O macho curió.

Tubarão-martelo
Com nosso macaco-prego
Será que tem elo?


É como um caudilho,
Que quer comandar no rio
O grão crocodilo.

Ao mudar as penas,
O pássaro nunca dá
Um chilro apenas. 

É sempre no outono
Que as folhas se precipitam
Perdendo seu trono.

Sempre à cor da mata
O camaleão, quando nasce,
Logo ele se adapta.

Preso numa gaiola,
Curió na solidão
Ainda cantarola. 

sábado, 6 de outubro de 2012

Cordel: O cadafalso da política

Desenho de Taciane, minha filha com sete e sua amiga Bruna, de catorze anos.

Em época de eleição,
Políticos reaparecem
Para pedir nosso voto.
Com cordeiros se parecem
Pra nos adquirir confiança
E depois desaparecem.

Eles sempre se aproveitam
De quem vive na amargura:
Prometem resolver tudo
E dão até dentadura.
O povo tem neles fé
De sair dessa vida dura.

Há candidato que diz
Que é realmente Jesus:
Por nós é mesmo capaz,
Até de morrer na cruz,
Mas isso é só sofisma
Para ver se nos seduz.

E vem dizendo que tem
Pra tudo uma solução;
Basta nós votarmos nele,
Que ele é a salvação,
Porém, tornamos a vê-lo
Só na próxima eleição.

E para eles se elegerem,
De tudo são bem capazes:
Vão à rede de tevê, rádio,
Nas ruas espalhar cartazes
E até com os adversários
Chegam a fazer as pazes.

Pra cair nas graças do povo,
Fazem o que não se pode:
Beijam, cantam se sacodem,
Cumprimentam todo público,
Comem buchada de pode.

Seja elegível a deputado,
Seja ao governo estadual,
Seja também ao Senado
Ou ao Governo Federal,
A sorrelfa é a mesma,
Que é ser cara de pau.

Com discurso envolvente,
Arrebanham grã plateia,
Transformando sua campanha
Em verdadeira odisseia.
Acham-se oniscientes, pois
Pra tudo têm panaceia.

O eleitor fica perplexo
Diante de tanta arteirice,
Não é capaz de escolher
Um nessa sem-vergonhice,
Porque perdeu sua confiança
Nessa vil politiquice.

E entram em nosso lar por
Meio do rádio e da tevê:
Cada um diz ser o melhor
Tentando nos convencer
De que tem capacidade
De representar você.

Então, esteja sempre alerta,
Meu caríssimo leitor:
Você é importantíssimo
Para o País como eleitor,
Portanto faça boa escolha
Pra não votar em malfeitor.

Na propaganda gratuita,
Fazem promessa escabrosa,
Prometendo transformar
O Brasil em mar de rosa,
Mas sabemos que tudo isso
É propaganda enganosa.

E só divulgam seus números,
Mas não fazem projeto,
Querem comprar seu voto
Como se fosse um objeto
E, depois, na sinecura,
Chamam o povo de abjeto.

Os políticos são sujos:
Poluem a área ambiental,
A sonora, a aérea e,
Principalmente, a visual
E depois fazem também
A mácula intelectual.

Mesmo na democracia,
É o voto obrigatório,
Mas você pode escolher
O que achar que é notório
Pra levar nossa política
Logo para o purgatório.

Entramos em desespero
Com esta atual situação,
É roubo de toda sorte
Como foi no Mensalão.
O Brasil pode ter jeito,
Mas os políticos, não.

A justiça foi cooptada
Em toda integralidade,
Pela matreira política
Garantindo impunidade
Àqueles que cometerem
Os atos de improbidade.

Então sejamos prudentes
Na escolha de nosso voto
Para não darmos a quem
Tem um caráter ignoto
ou a alguém, que, roubar dinheiro
Público é um devoto.

Bento Sales