Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.
Uma empresa foi coletar
látex dentro da Selva Amazônica com um pequeno exército de soldado da borracha.
Preparam-se para enfrentar as adversidades da floresta tomando vacina contra a
malária e febre amarela. Tudo ia muito bem até que, no sétimo dia, quando foram
almoçar, mas não encontraram a comida pronta:
- Cadê o almoço, mano?
Indagavam em uma só voz.
- Seu preguiçoso, não
fez a comida! Outro protestava.
- Estava dormindo, era?
Outra voz insultava.
- Calma, gente, não foi
nada disso, não! Eu fiz a comida, como de costume, mas ao meio dia, escutei um
grito rouco do lado esquerdo do acampamento e fui verificar o que era, porém
não vi nada. Quando voltei para a cozinha aqui, no acampamento, deparei-me com
um monstro gigantesco como o King Kong pegando uma por uma as panelas fervendo
e as entornando em sua enorme boca localizada no meio da barriga. Como eu o vi
de costas, a princípio, pensei que ele estava derramando em seu umbigo, então
olhei de lado e percebi que havia uma boca na barriga dele. Podem vir aqui
olhar as panelas sujas e fedorentas! Defende-se o cozinheiro.
- É o Mapinguari!
Alguém sugere.
- Que nada, isso é só
uma lenda! Este leso estava era dormindo e sonhou. Resmungava um famélico.
Foram investigar a estória.
Viram pegadas estranhas, meio arredondadas, como se os pés fossem virados para
trás. No dia seguinte, o fato se repete:
- Meu irmão, deixe de
brincadeira! Quer nos matar de fome, é?
Alguém reclamava.
- Não se trata disso,
não! O problema é que eu faço a comida, mas vem o monstro que lhes falei ontem
e come tudo sem eu poder fazer nada, pois nem arma de fogo eu tenho, somente as
facas da cozinha. Como posso enfrentá-lo assim? Ele é grande e forte e muito
catingoso. Ninguém aguenta. Explica-se o cozinheiro.
- Desse jeito, não pode
ficar, não!
- Pois bem, amanhã eu
virei ao meio dia e quero ver se esse macaco superdesenvolvido vai nos deixar
com fome outra vez. Decide o valentão da turma. No dia seguinte, às onze horas
e quarenta minutos, todos ficaram à espreita do Mapinguari. Todos, exceto o
cozinheiro e o corajoso, esperavam em cima das árvores. O valente fez
uma tocaia próximo da cozinha. De repente, ouviram um ruído rouco próximo ao
acampamento. Um forte cheiro de gambá insuportável aumentava paulatinamente.
Todos tremiam de medo. O barulho de galho quebrando se intensificava cada vez
mais. Num farfalhar das folhas secas, abriram-se os galhos e revelou-se uma
criatura semelhante aos gorilas das montanhas africanas; ora andando em quatro
patas, ora em duas. Ao chegar ao campo aberto, ficou bípede e sondou o ar no
rumo à cozinha. Todos colocaram a mão no nariz e ficaram trêmulos observando
aquele gigante com pelos grandes e avermelhados, com uma bocarra no meio da
barriga, como descrevera o cozinheiro, garras enormes como as da preguiça, um
só olho grande na testa, igual ao de um ciclope, mãos e braços
desproporcionais, pés virados para trás (lembrando o Curupira), com uns dois
metros de altura e envergadura com aproximadamente um metro e vinte
centímetros. Seguiu direto para a cozinha. O valentão indo atrás com uma
espingarda de chumbo doze milímetros e um machado arqueado, tão bem afiado que
o gume brilhava no sol do meio dia. Ao chegar à cozinha, pegou a panela com
carne de caça fervente e entornou na bocarra no meio tronco. O corajoso se
aproximou cerca de cinco metros traiçoeiramente, mirou na cabeça e disparou: poouu!
O Mapinguari parou por cinco segundos e
continuou a despejar o conteúdo da panela em sua boca e jogou a panela já
pegando outra. O intimorato jogou de lado a espingarda, firmou o machado com as
duas mãos, ficou na ponta dos pés e desferiu um golpe bem na nuca do monstro,
mas ele nem se abalou: parou de derramar a comida em sua boca, colocou a panela em cima do fogão de lenha, coçou a nuca com uma garra grande e adunca, olhou
para cima e tornou a devorar a comida. O herói e todos seus companheiros, que
caíram das árvores, correram cada um para seu lado se escondendo na selva,
exceto o cozinheiro, pois sabia que o monstro não mexeria com ele porque só
queria sua comida.
Bento Sales
Bentinho,
ResponderExcluirbelo conto fantástico!
Pois bem, às vezes os Mapinguaris só querem mesmo comida, e se o "alimentar-se" desses tipos lendários dependem de quem faz a comida, com certeza nada farão. Isso tudo, disse de forma metafórica e ampla, claro.
Nós alimentamos os mitos, eis a verdade.
Muito sábio!
Grande abraço e um excelente domingo para ti e tua família!
Belo conto, amigo!
ResponderExcluirOlá, Bento! Mito ou verdade? Em paralelo vejo quantos necessitam "virar panelas de alimentos substanciais e espirituais"... Precisamos reforçar o básico alimentar de cada um nesse mundo faminto e oprimido por "gigantes" ameaçadores! Com muitos "Mapinguaris" convivemos diariamente...
ResponderExcluirDestaco a sutileza do desenho interpretativo ao máximo da querida Taciane!
Abraço, Célia.
Que conto. Que monstro. Pensava que ia ter um fim engraçado, mais tudo bem. Eu gostei da parte em que o cozinheiro não corre, mesmo porque se ele matasse ele, não teria comida né. rs!
ResponderExcluirAté logo. "
Boa tarde, Bento. Hoje vim te convidar para participar da festa do "REDESCOBRINDO A ALMA", que completou 01 ano de vida dia 28 de Abril.
ResponderExcluirEstá sendo uma semana muito feliz, e gostaria que comesse um pedaço de bolo comigo na postagem comemorativa.
http://redescobrindoaalma.blogspot.com
Depois que você passar lá, eu gostaria que você conhecesse o poeta que deu origem, que incentivou-me a criar o meu blog. Vale a pena!
Ele faz faculdade de Letras:PORTUGUÊS-ITALIANO.
É um apaixonado pelo que faz.
Já falei do seu blog para ele.
Abaixo, colocarei o endereço dele.
http://caiovinicius160.blogspot.com
Obrigada por tudo.
Um beijo na alma, e fique na paz!
OBS: Depois eu volto para comentar a postagem, essa semana é de festa!
Olá estimado amigo Bento,
ResponderExcluir"Devorei" teu texto de alto a baixo. Parecia criança, escutando avó, contando história.
Que monstro! Eu não sabia o que era um Mapinguari, agora já entendi.
É lenda, não é?
O texto está muito bem escrito, sem qualquer erro de digitação, (o mesmo não acontecendo em relação aos que eu escrevo, mas tu estás por perto, e me alertas) e todo ele é muito fluente. Linguagem popular, sem desvios à norma.
Eu gosto de prosa, que todo o mundo entenda. Poesia pode e deve ser mais rica, mais coloquial.
Bom Domingo.
Grata pelo teu comentário e colaboração.
Abraços da amiga de sempre.
Oi Bento,
ResponderExcluirTudo bem?Adorei o conto e no início já pensava no Curupira. Penso que a maior parte desses monstros são criados apenas porque não entendemos a natureza. O ideal seri não questiona-lá e aí cada um teria o seu espaço.
Boa semana!
Lu
Oi Bento,
ResponderExcluirLi seu conto com uma curiosidade quase infantil, assim são as boas histórias nos fazem devorar cada linha com avidez pela revelação seguinte.
Quem alimenta sempre vive.
Abraços e bom feriado para você.
Gente o que é isso????
ResponderExcluirEu também virava em perna...
Ah Bento...Só vc mesmo....
Beijão.
Haha, esse ganhou pela barriga. Já tinha visto namorado conquistar a namorada pelo estômago. Mas alguém salvar a vida por causa de um rango, foi boa demais!
ResponderExcluirShow de bola!
Abraçãoo
Que monstro mais guloso rsrsrs...adorável ler seu conto amigo.
ResponderExcluirBoa semana, beijos,
Valéria
Ah...super lindo o desenho da Taciane...beijinhos pra ela
ResponderExcluirAdorei!! Curti mil vezes o conto, Bento!
ResponderExcluirNo final das contas quem se deu bem foi o cozinheiro! rsrsrsrs... salvo pelo gongo, ou melhor, pelo tempero!! rsrsrsrs
Abração
Sua filhinha está se desenvolvendo cada vez mais, nos desenhos.
ResponderExcluirTambém me senti criança, devorando seu conto. Mas ele tem muito mais que atração infantil. Muitas vezes, os monstros que nos assustam nada querem de nós, procuram, tão somente, satisfazer suas necessidades básicas.
Grande abraço, meu amigo. E parabéns por mais essa REFLEXIVA POSTAGEM.
Saudade de você, seus contos e os desenhos da Taci.
ResponderExcluirSeu conto prende atenção do começo ao fim.
Ótima semana
Abraço.
Querido amigo Bento, o conto é bem curioso, mas sem deixar de ser interessante, viu. Justamente por se tratar da região onde o conto é ambientado, que o torna com um certo realismo, eu diria. Um grande abraço e um bom feriado.
ResponderExcluirMe prendeu a atenção, sim; assustada igual criança, imaginei tudinho, e fico sem saber se é real ou lenda..juro. Sou ligada nessas coisas. Por exemplo certas figuras do folclore brasileiro, eu penso que existem em algum canto desse imenso País.
ResponderExcluirEssa me deu medo; do Curupira eu gosto, porque ele protege as florestas, penso q sim, sei não; o lobisomem é o mais horroroso porque pode matar as suas vítimas.
Então, vendo pelo lado bom, quem se salvou foi o cozinheiro que sempre "é o mais importante", igual na Escola; as crianças dizem: - Tia, se as merendeiras não vierem trabalhar, a senhora vai fazer nossa comida?
Quer dizer, pra eles o mais importante é ter a barriga cheia, são crianças carentes.
Bento, sempre gostei de ler-te, mas andei com uns aborrecimentos devido a uma outra pessoa que usa meu link, e perturba, alguns até me deixam pois ñ sabem quem é quem; eu sou a Mery* original...
Um abraço e uma boa tarde de feriado do Trabalhador.
Fui no PC e te vi, aí lembrei-me...foi muito bom, apesar do susto rs
Quanta imaginação heim?
ResponderExcluirMuito bom...a gente fica tensa...
Beijos
Ai que medo Bento!Eu que não quero encontrar com um bicho desse... Belo conto, querido.
ResponderExcluirBeijos.
Boa noite amigo querido Bento!
ResponderExcluirE chego aqui, deparo com uma história muito interessante, de um bicho que nunca ouvi falar, O Mapinguari. Feiinho ele não? Mas mesmo assim quer viver, quer comer, para ter mais tempo de vida. Assim somos nós, se temos, comemos, se não temos, saímos em busca de achar algo para matar a nossa fome, antes que ela nos mata.
Mas bem que ele poderia dividir com o pessoal do acampamento né? Mas penso que por ser tão enorme, não tinha jeito mesmo de dividir não.
Nessa história amigo Bento, que tanto gostei, você retrata com perfeição(metaforicamente), como nos tornamos gigantes diante da fome.E penso ser um assunto que é preciso ser discutido e muito por todos nós, pois a fome anda assolando o mundo, não só os seres humanos, pessoas não, mas os animais.Muitos andam invadindo as cidades em busca de alimentos, por que os humanos invadiram as suas privacidades, os seus cantos e lhes roubam os seus alimentos, e destroem as árvores frutíferas que eram muitas vezes o alimento deles. É preciso pensar nisso também. Vejo que seu texto dá margem à várias interpretações, e todas muito proveitosas e reflexivas.
Obrigada por saber expressar com tanta propriedade os seus textos.
Parabéns a você e a filha linda, que já sabe tão bem ilustrar a nossa realidade, mesmo que para muitos, seja apenas uma historinha infantil, do "bicho papão".
Uma bela noite. Abraços.
Que imaginação fértil, Bento! Gosto de vir aqui para apreciar os teus excelentes contos. Obrigado pelas palavras de incentivos deixadas em meu blog.
ResponderExcluirAbração.
Oi Bento!
ResponderExcluirBelo conto!Amei...
A história sobre Mapiguari, e uma bela ficcâo!
Essa cultura faz parte dos habitantes Tradiciais,
da lenda do alto Amazonas.
Parabéns!
Bjo na Taciane.
Um abraço!
Luci Salles.
Querido amigo Bento.
ResponderExcluirEstive alguns dias ausente e estou em dívida com o carinho de todos.Mas amanhã voltarei para apreciar as suas lindas postagens.
Boa noite
Beijos a Taciane.
Olá Bento,
ResponderExcluirO desenho da filhota foi feito sob encomenda, né? É perfeitamente casado com o conto.
Adorei o conto. Li como se fosse criança, ansiando pelo
seu final. Muito interessante o personagem.
Impecável e envolvente. Parabéns!
Grande abraço.
Adoro ver os desenhos da sua filha! Sao lindos!
ResponderExcluirO desenho e a história são ótimos. As descrições da criatura estão um espetáculo. Ficamos presos nas linhas ansiosos pelo desfecho. E que desfecho! Bem bolado esse final!!
ResponderExcluirAbraços, amigo Bento.
Querido amigo Bento
ResponderExcluirCom muito atraso , mas cheguei e fui apreciar a sua postagem anterior com excelente aula como sempre.
Este conto do monstro lendário é muito interessante.Adorei.Voltei á infância quando lia as histórias de Curupira, Sací-Pererê. E a Taciane conseguiu ilustrar o bichinho , que fofura.
Me veio este singelo haicai:
Monstro do mal
Vem berrando na floresta
O Mapinguari
Um lindo final de semana
Um grande abraço.
Olá, vim lhe desejar um ótimo sábado, um excelente domingo e uma semana proveitosa, – cheia de paz e plena de realizações!
ResponderExcluirAbraços.
Estive ausente, agradeço o teu comentario e espero a tua visita e a tua leitura de novo.
ResponderExcluirBeijinhos,
Pensando com Arte.
Prof. Bento, bela história lendária e sabia, afinal, apenas os ogros e incapacitados para interpretar a violencia em substituição ao instinto básico:a fome, em foco.
ResponderExcluirUm grande abraço!
Conto interessante, desse bicho fabuloso.
ResponderExcluirAbraços!
Olá meu amigo Bento!
ResponderExcluirVc avaba de criar mais um personagem folclórico entre tantos outros
existente ai no Amazonas.
Belo conto aliás, bela lenda em forma de um belo conto!
bj a vc e a toda familia..um especial a Taci!
Olá Bento,
ResponderExcluirMe senti devorando esse conto, igual fazia quando criança lendo algumas lendas.
Descrição fantástica desse monstro. Uma postagem super sábia como sempre, digna de um grande professor. A sua filhota consegui ilustrar lindamente.
Estive ausente por vários dias, mais estou de volta.
Um grande abraço!
ótimo começo de semana meu amigo!
Bentinho, já comentei acima... só vim convidar vc para visitar o blog do Paulo Cheng. Ele fez uma entrevista comigo, com umas perguntas super interessantes! Se desejar, passa lá...
ResponderExcluirAqui está o link:
http://www.paulocheng.com/2012/05/entrevista-com-joicy-sociere.html
Abração
Salve, Bento!
ResponderExcluirNossa, eu encontrei semelhanças do Mapinguari com um primo que tem um apetite tão voraz quanto! hahahaha
Excelente o conto, narrativa perfeita!
Muito obrigado por suas palavras no comentário lá em meu humilde blog na postagem em parceria com a Ana Cecília Romeu. Você possui um olhar detalhista e é recompensador ler um comentário enriquecedor como aquele.
Um abraço e obrigado mais uma vez! :)
Nessa visita eu deixo
ResponderExcluirUma boa tarde
Um abraço carinhoso
E meus parabéns pelas postagem
que Agrada aos olhos
E nos deixa feliz o dia todo
Bjussss Rita!!!!
Bento Sales
ResponderExcluirLenda bem interessante como todas. Tem o aliciante de estar bem descrita.
Gostei da lenda com sabor amazónico.
Reportado-me ao meu post, fado tem vastas interpretaçõoes. Grato pela visita.
Abraços
bento, meu querido amigo,
ResponderExcluirestou em crer que a tua intenção com este texto seria, de forma alegórica, chegar às ações absurdas dos homens quando regidas pela ambição e pela vã cobiça. quando o querer ter se sobrepõe a todos os valores, o homem deixa de se conhecer e, sobretudo, deixa de entender o que gira em seu redor. a natureza e os modos de vida particulares (e diferentes do socialmente estabelecido) serão apenas algumas das suas vítimas.
bela narrativa.
um abraço!
Boa noite, Bento.
ResponderExcluirExcelente conto este, parabéns.
Confesso que não conhecia este ente mitológico que descrevestes tão bem.
Aqui no sul temos o Boitatá (uma espécie de fogo-fátuo) que dizem que assombra os campos à noite.
E a ambição humana é com toda a certeza digna de punição, já que sem a Natureza nada somos.
E concordo contigo, não se força ninguém a aprender, o que se deve fazer é mostrar o valor do conhecimento.
Abraço e bom fim de semana pra ti, Bento.
Ola Amigo Bento!
ResponderExcluirEstive a ler o seu texto e gostei imenso, gosto imenso da forma como conjuras a imagem com o conto..o desenho com o conto! Prendeste-me as descrições...
Muito obrigada pelo teu comentario tão rico de tudo, a minha alma voou ao ler o seu comentario...MIL obrigadas!
beijinhos,
pensando com arte.
(publiquei o seguimento do outro texto, espero a tua opinião)
Olá, vim lhe desejar um ótimo sábado; um excelente, feliz e especial domingo Dia das Mães.
ResponderExcluirAceite o abraço fraterno do Viviani.
Nesse domingo dias das Mães
ResponderExcluirquero desejar a todas um dia
cheio de alegria,com filhos
família,e amigos!
Mães são nossa luz que ilumina
nossa vida,e pra você deixo aqui
um abraço carinhoso,feliz
dias das maravilhosas MÃES!
Que esse Blog continue a mostrar
essa beleza que vemos todo dia!!
Bjuss Rita!
Professor Bento agradeço a interação.
ResponderExcluirUm grande abraço.