Pintura de Taciane, minha filha de seis anos, então com cinco.
Alexandre casou-se com Helena, sua
vizinha e amiga de infância. Eles foram morar na capital, uma vez que, no
interior, não havia oportunidade de estudo nem de trabalho para ambos. Ficaram
um tempo na casa de um contraparente até conseguirem emprego para poder alugar
uma casa, o que não demorou muito para acontecer. Empregou-se numa empresa no
Distrito Industrial da cidade, em turno noturno. Ela começou a fazer curso
pré-vestibular. Neste ínterim, seu irmão Amaral, gêmeo univitelino e
primogênito (nascera cinco minutos antes que Alexandre) decidiu também ir para
a cidade grande com o mesmo intuito do irmão. Ele também fora amigo de infância
de Helena. Foi o primeiro namorado dela e, outrossim, trocaram juras de amor
eterno. Mas ela se apaixonou mesmo foi pelo Alexandre; o que sentia pelo Amaral
ficou latente. A princípio, ela estava confusa em relação ao que mais gostava,
porém, com o tempo e convivência, identificou-se mais com Alexandre, talvez por
ser mais ativo e atencioso. Os gêmeos nunca tinham ficado mais de um mês
separados. Sentiam falta um do outro, às vezes, competiam entre si, mas sempre
um cedia em prol do outro; houve ocasião em que um sentia quando o outro estava
doente.
Alexandre prontamente atendeu ao pedido do irmão de morar com ele. Empregou-se
numa empresa de computação em horário comercial. Alexandre, a princípio, ficou
meio cioso, uma vez que ele passava a noite trabalhando e Amaral, não. Os
dois ficariam sós neste ínterim, mas achou que tinha que confiar nela (e nele).
Passaram-se meses vivendo bem e tranquilamente, sem nenhuma desconfiança. A
vizinhança nunca desconfiou que fossem dois: achava que ele tinha dois empregos
e isso era bom porque não causaria comentários maldosos. Porém, depois de algum
tempo, Alexandre percebeu que Helena estava muito carinhosa com ele e não
falava diretamente com Amaral e este não conversava com ele tête-à-tête.
Ficou apreensivo, mas disfarçou. Pensou numa maneira de flagrar os dois. Trocou
de turno com um colega de trabalho, saiu como se fosse trabalhar normalmente.
Era num sábado, Amaral tinha expediente até meio-dia. Por volta de meia-noite,
ele foi até a casa, entrou sorrateiramente, seguiu um gemido arfante que vinha
do quarto; a porta estava entreaberta, ele viu tudo, ficou sem ação, sentiu
vontade de matá-los, mas os amava. Saiu para o quintal sob um brilho de Lua
cheia. Apenas o cricrilar dos insetos quebrava o silêncio. Foi para a penumbra
do jambeiro e chorou copiosamente. Olhou para cima e viu os galhos grossos em
forquilhas.
Passou-se algum tempo, Amaral foi tomar banho e viu a porta dos fundos aberta,
ficou assustado pensando que fosse ladrão. Sem acender a lâmpada, saiu, viu um
vulto de uma pessoa pendurada no galho. Voltou e acendeu a luz. Teve um grande
choque quando percebera quem era. Deu um grito de desespero, sentiu remorso,
culpa, sentiu-se culpado, sem voz. Helena ouviu e correu na direção. Quando
chegou lá, viu a cena funesta: o marido jazido no chão e o cunhado e amante
dependurado numa corda amarrada no jambeiro. Ela se julgou criminosa e caiu em
prantos tão desesperada que não lagrimava. Beijou o marido, pediu-lhe perdão,
depois, olhou para uma ponta da corda que sobrava, subiu na árvore, fez um
laço, pôs no pescoço e se jogou.
Esse conto é uma reedição, eu o reponho por ser um dos
primeiros que publiquei, aqui, no blog e em razão de ser uma predileção minha. Apesar de trágico, é uma ficção.
Bentinho,
ResponderExcluirapesar de ser de madrugada e o problema da minha miopia, como já te disse, aportei por aqui, em outro momento seria ainda mais difícil.
Confesso que o conto teve um final surpreendente para mim, e isso é a estranheza que tanto se precisa num conto, não. Creio que ela ficou concentrada nesse final trágico, onde poderia ser esperar algum tipo de tragédia, ela foi ainda mais intensa.
Lindo o desenho da Taci, beijinhos para ela!
Grande abraço para ti e tua esposa!
Bento,
ResponderExcluirQue tragédia! Um conto a fazer lembrar a literatura de cordel, não será?
O desenho de Taciane está fantástico.
Abraço
O seu conto meu querido amado amigo Bento, faz-me concluir, cada vez mais, que o amor,não vê cara, mas sim, escolhe coração. Não vê diferença, entre irmãos, pais, filhos...quantos casos temos notícias, do amor acabar se envolvendo, com pessoas da nossa mais íntima relação.
ResponderExcluirO amor é um sentimento, não "tão confiável", mas imprescindível a nós.
É preciso estarmos seguros realmente do que queremos, para então confiar no amor.
Mas gostei muito do seu conto e amei muito o desenho da artista, que se revela cada vez mais, a Taci.
Parabenizo a dupla, pois vejo longe essa parceria que deu certo.
Obrigada por visitar meu blog.
Um dia lindo.
Um grande abraço.
Sabe meu caro? Vou lhe confessar de que nem li direito seu texto, de tão encantado que fiquei com a pintura da sua pequena Taciane, pois trouxe-me, de imediato, à lembrança minha querida filha única que vive na França. E dá para perceber, mesmo sem falar, o seu orgulho...
ResponderExcluirUm abração amigo.
Até mais!
Muito estimado Bento,
ResponderExcluirseu conto é muito bom. Bem elaborado e dosado! Parabéns!
Com continuada admiração, Cristiano Marcell
Prezado(a)amigo(a),
ResponderExcluirgoataria de convidá-lo(a) para visitar o Haicais de Domingo.Hoje a entrevista é com Luna de Primo
http://poetasdemarte.blogspot.com.br/search/label/HAICAIS%20DE%20DOMINGO
Muita paz!
Bento Sales
ResponderExcluirUm conto sim, bem esquematizado em drama. gostei de de ler?
Gostaria, que lesses um capítulo do meu - TOP SECRET OLAVO e me deisses uma opinião. É muito importante para mim ter uma opinião abalizada.
Abraços
As palavras do conto mostram amor e tortura... O desenho complementa divinamente com a árvore desfecho de tudo, simbolizada nos frutos vermelhos do amor! Ao papai e filhinha, abração da Célia.
ResponderExcluirOI SALES!
ResponderExcluirPOIS, TENS RAZÃO, APESAR DE TRÁGICO É UM LINDO CONTO E MUITO BEM ESCRITO.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
Click AQUI
Bentinho,
ResponderExcluirvim agradecer pelo comentário em razão da minha parceria com o Jacques, muito obrigada!
Grande abraço e ótima semana!
Amores loucos. Impossíveis. Isso faz parte da vida. E o final quase nunca é feliz.
ResponderExcluirEssa é a prova do amor e ódio como linha tênue. Tem pessoas que não aguentam a pressão. Não conseguem superar um amor "perdido". E ele estava numa encruzilhada. Ou entregava-se ao amor e magoaria o irmão (do qual amava tb). Ou engolia seco o amor impossível. Optou pela morte, que era um caminho também. Infelizmente.
Abss!
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Site Oficial: JimCarbonera.com
Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
Esboços visuais: The-tramp-mind.tumblr.com
É meu amigo é de fato trágico, mas diante do tamanho da ilusão que muitos carregam e vivem, é algo muito possível de ser real, infelizmente.
ResponderExcluirLindo o desenho da Taciane...
Beijos e boa semana amigo,
Valéria
VENHO TRAZER UM CONVITE ESPECIAL PARA IR A MINHA FESTA...ESTOU COMPLETANDO UMA LINDA IDADE,KKKKKKK,E QUERO MUITO VC LÁ PARA FAZER PARTE DO CORAL,KKKKKK,TE QUERO LÁ CANTANDO PARABÉNS PRÁ MIM!!!!
ResponderExcluira FESTA TÁ LINDA ,MAS FALTA VOCÊ PARA COMPLETAR A BELEZA ...
VAI LÁ AMORE MIO !
PASSANDO E DEIXANDO BEIJOSSSSSSSSSSS
MAS NÃO RESISTINDO A LEITURA DO CONTO,FICO ME IMAGINANDO COMO VC ESCREVE DEMAIS .E POR CIMA TENS O DOM DE SER PROFESSOR...
AINDA COM TEMPO DE DEIXAR UM BEIJINHO ESPECIAL PARA A tATY...
Boa noite, Bento.
ResponderExcluirA maior qualidade do amor é também seu maior defeito: ele é incontrolável.
Excelente conto e belíssima pintura de Taciane.
Agradeço por teus elogios a mim e a Ana, e sem dúvida o mérito é todo dela.
Abraço, Bento.
Uma amiga muito especial
ResponderExcluirhoje marca a postagem do meu blog.
Um ser divino que em pouco tempo conquistou corações nesse mundo virtual.
O meu foi quase um dos primeiros a ficar apaixonado pelo carisma ,
e grandeza de seu coração.
Convido você a deixar seu carinho e fazer parte dessa preciosa amizade.
Espero em Deus ter saúde o suficiente para conhece-la pessoalmete
em 2012.
Vou ficar agradecida com sua doce presença.
Uma linda e abençoada semana.
Beijos ternos e carinhosos.
Evanir.
Boa noite Bento!
ResponderExcluirTudo bem? Excelente o texto! Destaco que o final seria um capítulo da vida real e como diz Fernando Pessoa: "Tomar o sonho por real, viver demasiado os sonhos deu-me este espinho à rosa falsa de minha sonhada vida: que nem os sonhos me agradam, porque lhes acho defeitos".
Desejo uma excelente semana!
Nossa que coisa profunda, arrepiei
ResponderExcluirmas uma boa escrita, que faz a gente
gostar mesmo e eu adorei
parabéns pelo belo post
Abraços
Rita!!!!
Belíssimo conto. Uma tragédia meio nelsonrodrigueana muito bem montada, descrita e desenvolvida. Parabéns, e abraços literários, JAIR
ResponderExcluirMuito bem feita a trama.
ResponderExcluirTragedias sempre caem no gosto de todos.
Acho que gostamos de sofrer e ver o sofrimento alheio né?
Parabéns professor.
Bento Sales
ResponderExcluirFico muito grato, sobre a apreciação feita no TOP SECRET OLAVO. para mim é muito importante, pois o vou escrevendo com vista a publicar. Se bem que já tenha em publicação, o meu terceiro livro de prosa. As circunstâncias em que escrevi foram muito adversas. Na verdade reaprendia a escrever.
O meu bem hajas!...
Um abraço
Amigo Bento, o conto realmente nos prende, nos impressiona e nos encanta também, pois da maneira como é escrito e narrado, o torna mais convidativo ainda à sua leitura. Só me resta mais uma vez, o que faço sempre é, te parabenizar querido amigo.
ResponderExcluirBento, gostei do conto!
ResponderExcluirA tragédia e uma ficçâo muito interessante,são
conflitos bem comum...
Um belo conto!
Uma otima ficção!
Parabéns.
Beijo na Taciane.
Abraço.
Luci Sales.
Salve, Bento!
ResponderExcluirOs "amores trágicos", tão comuns na literatura e em nosso cotidiano - pois não acompanhamos situações tão intensas em nossos telejornais ou nas rodas de conversa? Há até os famosos "crimes passionais".
Um final trágico. Mas estes, que se amavam todos, sentiram uma culpa; culpa cada vez menos frequente nas relações atuais, onde o descarte é facilmente praticado. A não ser quando há morte - um arrependimento, sim, mas culpa tão grande a ponto de ceifar a vida? Muitos ficam com o arrependimento, apenas. E a culpa? Não existe.
Complicados são os caminhos do coração!
Abraço! Gostei do conto e de seu desfecho.
Olá, vim lhe trazer o meu abraço. Tenhas um ótimo final de semana.
ResponderExcluirCOMO SEMPRE UM BELO CONTO ..DIGNO DO SEU TALENTO COMO ESCRITOR!
ResponderExcluirPARABÉNS MEU AMIGO!
E OLHA.. ESTA PINTURA DA TACI...QUE TALENTO!
UM BEIJO A VC..
PARABÉNS PARA A TACI!!
meu querido amigo bento,
ResponderExcluirsó mesmo o amor para ombrear com a morte no capítulo dos desígnios maiores da vida.
deixo-te este texto de adília lopes que conjuga amor e morte igualmente:
OS NAMORADOS POBRES
O namorado dá
flores murchas
à namorada
e a namorada come as flores
porque tem fome
Não trocam cartas
nem retratos nem anéis
porque são pobres
Mas um dia
têm muito medo
de se esquecerem
um do outro
então apanham
um cordel
do chão
cortam o cordel
e trocam alianças
feitas de cordel
Não podem
combinar encontros
porque não têm
número de telefone
nem morada
assim encontram-se
por acaso
e têm medo
de não se voltarem
a encontrar
O acaso
naõ os favorece
Decidem nunca sair
do mesmo sítio
e ficarem sempre juntos
para não se perderem
um do outro
Procuram um sítio
mas todos os sítios
têm dono
ou mudam de nome
Então retiram
dos dedos
os anéis de cordel
atam um anel
ao outro
e enforcam-se
Mas a namorada
tem de esperar
pelo namorado
porque o cordel
só dá par[a] um
de cada vez
O namorado
descansa à sombra
da figueira
e a namorada
baloiça
na figueira
O dono da figueira
zanga-se
com os namorados pobres
porque julga
que estão a roubar figos
e a andar de baloiço
um forte abraço!
Boa Tarde
ResponderExcluirQue belo conto no amor tudo pode acontecer. Parabéns achei muito bom. Um feliz fim de semana para vc. Com carinho.
Ana Brisa
Muito Trágico!
ResponderExcluir... E não sei que amor louco é esse(?)
Amar não é possuir o outro. ...Não podemos matar ou morrer por amor, é contra as leis de Deus.
Hoje a gente vê coisas que até duvida, mas o teu conto é ficção* anda bem...
A traição deu no que deu, muito triste. Mas não concordo que seja Amor*
É algo doentio; como diz "alguém: essa é a minha opinião.
Beijinhos pra ti e a filhinha .
Mery*
Olá meu mano Bento,
ResponderExcluirCara, esse conto é do tempo em que as pessoas erravam, mas tinham honra e vergonha, a ponto de tirar a própria vida se necessário. Em algumas sociedades essas coisas se perderam, e a traição, a passada de perna no amigo ou no parente, se tornou coisa mais normal do mundo.
Não gosto de ser o tipo que vê tudo de ruim no presente e tudo de bom no passado, mas nesse caso, acho que é pertinente.
Grande abraço meu chapa.
Amigo Bento
ResponderExcluirTeu conto foi me prendendo e teve um final trágico inesperado. Mas não podia ser de outra forma não é? O triângulo entre gêmeos que se amavam só podia terminar assim.Linda ficção. Na vida real hoje o suicídio para limpar a própria honra só acontece no Japão por político flagrado na corrupção.
A Taciane está desenhando cada vez melhor, que graça.
Diga que lhe dei os parabéns.
Um lindo final de semana
Um grande abraço.
Belo conto prof. Bento, embora uma ficção como dissestes bem, mas nada impossivel do comportamento humano, sempre esdruchulo as normas gerais de perfeição racional. Excelente verossimilhança ao homem "humano".
ResponderExcluirUm grande abraço!
Nossa! Não conhecia seu conto e ele é daqueles que nos prendem a atenção, sem previsão do final. Muito bem escrito. Tragédias nem sempre são previsíveis, como a traição. Sua filhinha está cada vez melhor. Parabéns a ela. E ao pai, pelo talento. Bjs.
ResponderExcluirMuito bem escrito, parabéns!
ResponderExcluirAbraço.