Total de visualizações de página

sábado, 2 de junho de 2012

A TRAGÉDIA

Pintura de Taciane, minha filha de seis anos, então com cinco.


           Alexandre casou-se com Helena, sua vizinha e amiga de infância. Eles foram morar na capital, uma vez que, no interior, não havia oportunidade de estudo nem de trabalho para ambos. Ficaram um tempo na casa de um contraparente até conseguirem emprego para poder alugar uma casa, o que não demorou muito para acontecer. Empregou-se numa empresa no Distrito Industrial da cidade, em turno noturno. Ela começou a fazer curso pré-vestibular. Neste ínterim, seu irmão Amaral, gêmeo univitelino e primogênito (nascera cinco minutos antes que Alexandre) decidiu também ir para a cidade grande com o mesmo intuito do irmão. Ele também fora amigo de infância de Helena. Foi o primeiro namorado dela e, outrossim, trocaram juras de amor eterno. Mas ela se apaixonou mesmo foi pelo Alexandre; o que sentia pelo Amaral ficou latente. A princípio, ela estava confusa em relação ao que mais gostava, porém, com o tempo e convivência, identificou-se mais com Alexandre, talvez por ser mais ativo e atencioso. Os gêmeos nunca tinham ficado mais de um mês separados. Sentiam falta um do outro, às vezes, competiam entre si, mas sempre um cedia em prol do outro; houve ocasião em que um sentia quando o outro estava doente.
            Alexandre prontamente atendeu ao pedido do irmão de morar com ele. Empregou-se numa empresa de computação em horário comercial. Alexandre, a princípio, ficou meio cioso, uma vez que ele passava a noite trabalhando e Amaral, não.  Os dois ficariam sós neste ínterim, mas achou que tinha que confiar nela (e nele). Passaram-se meses vivendo bem e tranquilamente, sem nenhuma desconfiança. A vizinhança nunca desconfiou que fossem dois: achava que ele tinha dois empregos e isso era bom porque não causaria comentários maldosos. Porém, depois de algum tempo, Alexandre percebeu que Helena estava muito carinhosa com ele e não falava diretamente com Amaral e este não conversava com ele tête-à-tête. Ficou apreensivo, mas disfarçou. Pensou numa maneira de flagrar os dois. Trocou de turno com um colega de trabalho, saiu como se fosse trabalhar normalmente. Era num sábado, Amaral tinha expediente até meio-dia. Por volta de meia-noite, ele foi até a casa, entrou sorrateiramente, seguiu um gemido arfante que vinha do quarto; a porta estava entreaberta, ele viu tudo, ficou sem ação, sentiu vontade de matá-los, mas os amava. Saiu para o quintal sob um brilho de Lua cheia. Apenas o cricrilar dos insetos quebrava o silêncio. Foi para a penumbra do jambeiro e chorou copiosamente. Olhou para cima e viu os galhos grossos em forquilhas.
            Passou-se algum tempo, Amaral foi tomar banho e viu a porta dos fundos aberta, ficou assustado pensando que fosse ladrão. Sem acender a lâmpada, saiu, viu um vulto de uma pessoa pendurada no galho. Voltou e acendeu a luz. Teve um grande choque quando percebera quem era. Deu um grito de desespero, sentiu remorso, culpa, sentiu-se culpado, sem voz. Helena ouviu e correu na direção. Quando chegou lá, viu a cena funesta: o marido jazido no chão e o cunhado e amante dependurado numa corda amarrada no jambeiro. Ela se julgou criminosa e caiu em prantos tão desesperada que não lagrimava. Beijou o marido, pediu-lhe perdão, depois, olhou para uma ponta da corda que sobrava, subiu na árvore, fez um laço, pôs no pescoço e se jogou.


Esse conto é uma reedição, eu o reponho por ser um dos primeiros que publiquei, aqui, no blog e em razão de ser uma predileção minha.  Apesar de trágico, é uma ficção.

33 comentários:

  1. Bentinho,
    apesar de ser de madrugada e o problema da minha miopia, como já te disse, aportei por aqui, em outro momento seria ainda mais difícil.
    Confesso que o conto teve um final surpreendente para mim, e isso é a estranheza que tanto se precisa num conto, não. Creio que ela ficou concentrada nesse final trágico, onde poderia ser esperar algum tipo de tragédia, ela foi ainda mais intensa.

    Lindo o desenho da Taci, beijinhos para ela!
    Grande abraço para ti e tua esposa!

    ResponderExcluir
  2. Bento,
    Que tragédia! Um conto a fazer lembrar a literatura de cordel, não será?
    O desenho de Taciane está fantástico.

    Abraço

    ResponderExcluir
  3. O seu conto meu querido amado amigo Bento, faz-me concluir, cada vez mais, que o amor,não vê cara, mas sim, escolhe coração. Não vê diferença, entre irmãos, pais, filhos...quantos casos temos notícias, do amor acabar se envolvendo, com pessoas da nossa mais íntima relação.
    O amor é um sentimento, não "tão confiável", mas imprescindível a nós.
    É preciso estarmos seguros realmente do que queremos, para então confiar no amor.
    Mas gostei muito do seu conto e amei muito o desenho da artista, que se revela cada vez mais, a Taci.
    Parabenizo a dupla, pois vejo longe essa parceria que deu certo.
    Obrigada por visitar meu blog.
    Um dia lindo.
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Sabe meu caro? Vou lhe confessar de que nem li direito seu texto, de tão encantado que fiquei com a pintura da sua pequena Taciane, pois trouxe-me, de imediato, à lembrança minha querida filha única que vive na França. E dá para perceber, mesmo sem falar, o seu orgulho...
    Um abração amigo.
    Até mais!

    ResponderExcluir
  5. Muito estimado Bento,

    seu conto é muito bom. Bem elaborado e dosado! Parabéns!

    Com continuada admiração, Cristiano Marcell

    ResponderExcluir
  6. Prezado(a)amigo(a),

    goataria de convidá-lo(a) para visitar o Haicais de Domingo.Hoje a entrevista é com Luna de Primo

    http://poetasdemarte.blogspot.com.br/search/label/HAICAIS%20DE%20DOMINGO

    Muita paz!

    ResponderExcluir
  7. Bento Sales

    Um conto sim, bem esquematizado em drama. gostei de de ler?
    Gostaria, que lesses um capítulo do meu - TOP SECRET OLAVO e me deisses uma opinião. É muito importante para mim ter uma opinião abalizada.
    Abraços

    ResponderExcluir
  8. As palavras do conto mostram amor e tortura... O desenho complementa divinamente com a árvore desfecho de tudo, simbolizada nos frutos vermelhos do amor! Ao papai e filhinha, abração da Célia.

    ResponderExcluir
  9. OI SALES!
    POIS, TENS RAZÃO, APESAR DE TRÁGICO É UM LINDO CONTO E MUITO BEM ESCRITO.
    ABRÇS

    zilanicelia.blogspot.com.br/
    Click AQUI

    ResponderExcluir
  10. Bentinho,
    vim agradecer pelo comentário em razão da minha parceria com o Jacques, muito obrigada!
    Grande abraço e ótima semana!

    ResponderExcluir
  11. Amores loucos. Impossíveis. Isso faz parte da vida. E o final quase nunca é feliz.

    Essa é a prova do amor e ódio como linha tênue. Tem pessoas que não aguentam a pressão. Não conseguem superar um amor "perdido". E ele estava numa encruzilhada. Ou entregava-se ao amor e magoaria o irmão (do qual amava tb). Ou engolia seco o amor impossível. Optou pela morte, que era um caminho também. Infelizmente.

    Abss!

    ----
    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
    Esboços visuais: The-tramp-mind.tumblr.com

    ResponderExcluir
  12. É meu amigo é de fato trágico, mas diante do tamanho da ilusão que muitos carregam e vivem, é algo muito possível de ser real, infelizmente.
    Lindo o desenho da Taciane...
    Beijos e boa semana amigo,
    Valéria

    ResponderExcluir
  13. VENHO TRAZER UM CONVITE ESPECIAL PARA IR A MINHA FESTA...ESTOU COMPLETANDO UMA LINDA IDADE,KKKKKKK,E QUERO MUITO VC LÁ PARA FAZER PARTE DO CORAL,KKKKKK,TE QUERO LÁ CANTANDO PARABÉNS PRÁ MIM!!!!
    a FESTA TÁ LINDA ,MAS FALTA VOCÊ PARA COMPLETAR A BELEZA ...
    VAI LÁ AMORE MIO !
    PASSANDO E DEIXANDO BEIJOSSSSSSSSSSS

    MAS NÃO RESISTINDO A LEITURA DO CONTO,FICO ME IMAGINANDO COMO VC ESCREVE DEMAIS .E POR CIMA TENS O DOM DE SER PROFESSOR...
    AINDA COM TEMPO DE DEIXAR UM BEIJINHO ESPECIAL PARA A tATY...

    ResponderExcluir
  14. Boa noite, Bento.
    A maior qualidade do amor é também seu maior defeito: ele é incontrolável.
    Excelente conto e belíssima pintura de Taciane.
    Agradeço por teus elogios a mim e a Ana, e sem dúvida o mérito é todo dela.
    Abraço, Bento.

    ResponderExcluir
  15. Uma amiga muito especial
    hoje marca a postagem do meu blog.
    Um ser divino que em pouco tempo conquistou corações nesse mundo virtual.
    O meu foi quase um dos primeiros a ficar apaixonado pelo carisma ,
    e grandeza de seu coração.
    Convido você a deixar seu carinho e fazer parte dessa preciosa amizade.
    Espero em Deus ter saúde o suficiente para conhece-la pessoalmete
    em 2012.
    Vou ficar agradecida com sua doce presença.
    Uma linda e abençoada semana.
    Beijos ternos e carinhosos.
    Evanir.

    ResponderExcluir
  16. Boa noite Bento!

    Tudo bem? Excelente o texto! Destaco que o final seria um capítulo da vida real e como diz Fernando Pessoa: "Tomar o sonho por real, viver demasiado os sonhos deu-me este espinho à rosa falsa de minha sonhada vida: que nem os sonhos me agradam, porque lhes acho defeitos".

    Desejo uma excelente semana!

    ResponderExcluir
  17. Nossa que coisa profunda, arrepiei
    mas uma boa escrita, que faz a gente
    gostar mesmo e eu adorei
    parabéns pelo belo post
    Abraços
    Rita!!!!

    ResponderExcluir
  18. Belíssimo conto. Uma tragédia meio nelsonrodrigueana muito bem montada, descrita e desenvolvida. Parabéns, e abraços literários, JAIR

    ResponderExcluir
  19. Muito bem feita a trama.
    Tragedias sempre caem no gosto de todos.
    Acho que gostamos de sofrer e ver o sofrimento alheio né?
    Parabéns professor.

    ResponderExcluir
  20. Bento Sales

    Fico muito grato, sobre a apreciação feita no TOP SECRET OLAVO. para mim é muito importante, pois o vou escrevendo com vista a publicar. Se bem que já tenha em publicação, o meu terceiro livro de prosa. As circunstâncias em que escrevi foram muito adversas. Na verdade reaprendia a escrever.
    O meu bem hajas!...
    Um abraço

    ResponderExcluir
  21. Amigo Bento, o conto realmente nos prende, nos impressiona e nos encanta também, pois da maneira como é escrito e narrado, o torna mais convidativo ainda à sua leitura. Só me resta mais uma vez, o que faço sempre é, te parabenizar querido amigo.

    ResponderExcluir
  22. Bento, gostei do conto!
    A tragédia e uma ficçâo muito interessante,são
    conflitos bem comum...
    Um belo conto!
    Uma otima ficção!
    Parabéns.
    Beijo na Taciane.
    Abraço.
    Luci Sales.

    ResponderExcluir
  23. Salve, Bento!

    Os "amores trágicos", tão comuns na literatura e em nosso cotidiano - pois não acompanhamos situações tão intensas em nossos telejornais ou nas rodas de conversa? Há até os famosos "crimes passionais".

    Um final trágico. Mas estes, que se amavam todos, sentiram uma culpa; culpa cada vez menos frequente nas relações atuais, onde o descarte é facilmente praticado. A não ser quando há morte - um arrependimento, sim, mas culpa tão grande a ponto de ceifar a vida? Muitos ficam com o arrependimento, apenas. E a culpa? Não existe.

    Complicados são os caminhos do coração!

    Abraço! Gostei do conto e de seu desfecho.

    ResponderExcluir
  24. Olá, vim lhe trazer o meu abraço. Tenhas um ótimo final de semana.

    ResponderExcluir
  25. COMO SEMPRE UM BELO CONTO ..DIGNO DO SEU TALENTO COMO ESCRITOR!
    PARABÉNS MEU AMIGO!
    E OLHA.. ESTA PINTURA DA TACI...QUE TALENTO!
    UM BEIJO A VC..
    PARABÉNS PARA A TACI!!

    ResponderExcluir
  26. meu querido amigo bento,
    só mesmo o amor para ombrear com a morte no capítulo dos desígnios maiores da vida.

    deixo-te este texto de adília lopes que conjuga amor e morte igualmente:


    OS NAMORADOS POBRES

    O namorado dá
    flores murchas
    à namorada
    e a namorada come as flores
    porque tem fome

    Não trocam cartas
    nem retratos nem anéis
    porque são pobres

    Mas um dia
    têm muito medo
    de se esquecerem
    um do outro
    então apanham
    um cordel
    do chão
    cortam o cordel
    e trocam alianças
    feitas de cordel

    Não podem
    combinar encontros
    porque não têm
    número de telefone
    nem morada
    assim encontram-se
    por acaso
    e têm medo
    de não se voltarem
    a encontrar

    O acaso
    naõ os favorece

    Decidem nunca sair
    do mesmo sítio
    e ficarem sempre juntos
    para não se perderem
    um do outro

    Procuram um sítio
    mas todos os sítios
    têm dono
    ou mudam de nome

    Então retiram
    dos dedos
    os anéis de cordel
    atam um anel
    ao outro
    e enforcam-se

    Mas a namorada
    tem de esperar
    pelo namorado
    porque o cordel
    só dá par[a] um
    de cada vez

    O namorado
    descansa à sombra
    da figueira
    e a namorada
    baloiça
    na figueira

    O dono da figueira
    zanga-se
    com os namorados pobres
    porque julga
    que estão a roubar figos
    e a andar de baloiço

    um forte abraço!

    ResponderExcluir
  27. Boa Tarde
    Que belo conto no amor tudo pode acontecer. Parabéns achei muito bom. Um feliz fim de semana para vc. Com carinho.
    Ana Brisa

    ResponderExcluir
  28. Muito Trágico!
    ... E não sei que amor louco é esse(?)
    Amar não é possuir o outro. ...Não podemos matar ou morrer por amor, é contra as leis de Deus.
    Hoje a gente vê coisas que até duvida, mas o teu conto é ficção* anda bem...
    A traição deu no que deu, muito triste. Mas não concordo que seja Amor*
    É algo doentio; como diz "alguém: essa é a minha opinião.
    Beijinhos pra ti e a filhinha .
    Mery*

    ResponderExcluir
  29. Olá meu mano Bento,

    Cara, esse conto é do tempo em que as pessoas erravam, mas tinham honra e vergonha, a ponto de tirar a própria vida se necessário. Em algumas sociedades essas coisas se perderam, e a traição, a passada de perna no amigo ou no parente, se tornou coisa mais normal do mundo.

    Não gosto de ser o tipo que vê tudo de ruim no presente e tudo de bom no passado, mas nesse caso, acho que é pertinente.

    Grande abraço meu chapa.

    ResponderExcluir
  30. Amigo Bento
    Teu conto foi me prendendo e teve um final trágico inesperado. Mas não podia ser de outra forma não é? O triângulo entre gêmeos que se amavam só podia terminar assim.Linda ficção. Na vida real hoje o suicídio para limpar a própria honra só acontece no Japão por político flagrado na corrupção.

    A Taciane está desenhando cada vez melhor, que graça.
    Diga que lhe dei os parabéns.

    Um lindo final de semana
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  31. Belo conto prof. Bento, embora uma ficção como dissestes bem, mas nada impossivel do comportamento humano, sempre esdruchulo as normas gerais de perfeição racional. Excelente verossimilhança ao homem "humano".
    Um grande abraço!

    ResponderExcluir
  32. Nossa! Não conhecia seu conto e ele é daqueles que nos prendem a atenção, sem previsão do final. Muito bem escrito. Tragédias nem sempre são previsíveis, como a traição. Sua filhinha está cada vez melhor. Parabéns a ela. E ao pai, pelo talento. Bjs.

    ResponderExcluir
  33. Muito bem escrito, parabéns!
    Abraço.

    ResponderExcluir