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sábado, 3 de novembro de 2012

A CASA

Pintura de Taciane, minha filha com sete anos, então com cinco.

Depois de economizar durante quinze anos, o marido conseguiu comprar uma casa de seu intuito: boa localidade, amplo terreno, pátio, precisando de pouca reforma. O casal morou cinco anos no alto da residência de sua irmã, onde tinha, ficticiamente, parte, pois ajudou a comprá-la juntamente com seus dois irmãos. Havia, por parte da esposa, um certo desconforto porque toda mudança ou reforma teria que passar pela aprovação da cunhada. Ela vivia pressionando o marido para saírem de porque estava aborrecida com essa situação, mas ele sempre foi um homem prático e arrazoado: pedia-lhe paciência para que juntasse mais dinheiro para comprar uma casa melhor. Ela aceitava por um tempo, todavia voltava insistir. Deliberaram procurar a casa para ter ideia de preço. Quando gostava de uma, o valor era muito além do que tinham e ainda precisava de reforma ampla. Ficaram nisso durante dois anos. Enfim, encontraram a casa dos seus sonhos. Quando a esposa olhou a documentação, viu uma certidão de óbito da proprietária predecessora. Incontinentimente, ela ficou preocupada e, sobretudo, arrependida de ter comprado a casa. Pediu para desfazer o negócio, mas ao ler o contrato, o marido viu que continha uma cláusula referente ao arrependimento, que o arrependido teria que pagar uma multa de trinta por cento, o que tornaria inviável a aquisição de outra iminentemente. Pediu, então, para ele investigar se ela falecera na casa, uma vez que na certidão de óbito dizia que a causa mortis foi “grande queimado”. O marido inquiriu o corretor: ele disse que não os conhecia, mas achava que isso ocorrera no centro da cidade. Porém, ela não acreditou. Durante a reforma em duas semanas, um dos trabalhadores subiu no muro e viu o fundo da casa do vizinho repleto de santo. Quando a esposa foi , ele mostrou para ela. Foi a gota-d’água para ela ficar mais preocupada, dizendo que não moraria próximo de um macumbeiro, que isso traria azar, mas não era nada disso, apenas um vizinho que colecionava santos. durante a mudança, passaram umas moças próximo ao caminhão de mudança e um dos ajudantes mexeu com elas, uma indagou se havia comprado a casa, ele afirmou que sim, então ela falou para ter cuidado porque morreram uma criança e a mãe queimadas. O rapaz logo alertou o marido para sua esposa não saber, que ela estava muito perturbada com essa história. Passaram a noite de sábado e o domingo, mas não ouviram nem viram nada de incomum. Na segunda-feira, foi uma equipe representante de uma empresa metalúrgica terminar um serviço de grade pendente e, como morava perto, sabia do ocorrido; contaram para ela com requinte de fofoca. Ela ficou em pânico. Queria sair da casa rapidamente, mas o marido pediu para ela não ligar para isso e que era estória de desocupado ou então de invejoso. Ela suplicou para sair de , porém, ele gostou muito da casa e, mesmo tendo prometido para ela que sairia para não enlouquecer, decidira que não a venderia nem sairia de . A filha do casal, de um ano de idade, ficou à vontade na casa, como se tivesse nascido , talvez por não entender a situação. Ela corria de um lado para outro, gritava, jogava bola, era a verdadeira dona da casa. Não ligava para o acontecido. Isso lhe deu firmeza em sua decisão de permanecer em seu novo recinto, pois também tinha esperança de ela superar essa história toda e curtir seu novo lar. Era uma residência fascinante. Todo mundo ficava apaixonado por ela (exceto sua esposa). 
            A história consiste no seguinte: no reveillon de dois mil e cinco, o casal chegou de uma festa, de madrugada (provavelmente bêbado), com um casal de adolescente do primeiro casamento do marido e uma menina de três anos, filha da esposa do casamento anterior. Ao dormirem, os adolescentes deixaram ligado um ventilador ou computador ou um quebra-luz, segundo várias fontes contraditórias, então um desses utensílios, incendiou-se, propagando para o forro de madeira e para outros objetos domésticos e demais compartimentos. O esposo, segundo algumas fontes, como dormia em quarto próximo da porta de saída, logo saiu com a mulher, mas ela viu que sua filhinha ainda não havia saído, voltou imediatamente para socorrê-la; os adolescentes estavam presos na suíte, pois o teto era de concreto. Neste ínterim, a vizinhança chamara corpo de bombeiro, mas a casa ardia em chamas e fumaça. A mãe conseguiu sair, mesmo muito queimada, com a filha com poucas queimaduras, mas intoxicada com a fumaça e foram levadas ao pronto-socorro pelos amigos, enquanto os bombeiros combatiam o fogo e resgatavam os adolescentes por um orifício que fizeram na lateral da casa. A criança falecera no caminho do hospital por causa do dióxido de carbono inspirado, e a mãe, horas depois, no hospital, em conseqüência das queimaduras de terceiro grau pelo corpo todo.
            A esposa temia por essas pessoas terem morrido dentro da casa, porém ela investigou com os vizinhos para saber estritamente o que ocorrera e constatou que não morreram . Ficou um tanto aliviada, todavia, ainda muito chocada e nervosa com tudo isso. Era uma mulher repleta de fobia, superstição, dogma e crendice, como nunca se viu. Então ele teve ideia de chamar um padre ou pastor para benzer a casa. Ela aceitou. Um obreiro veio pregar para ela e ungiu a casa com óleo e disse que teriam que fazer um voto e ofertar à igrejaDeus é Amor” e assistir a um culto. Assim eles fizeram. Mas ela nunca superou totalmente esse caso. Queixava-se de que a casa era malfalada. Ele dizia que não,  que as pessoas que são maldosas e por isso falam mal das coisas e dos outros. Ele falava que esse enredo não tinha nada a ver com eles, uma vez que a história deles na casa começou quando se mudaram. O que passou com outra família não lhes interessava. Passou-se um ano e ela, de quando em vez, tinha recaída porque algumas crianças vizinhas vinham brincar com sua filha e relembravam o ocorrido. Passou-se um tempo, o casal conversando sobre a casa, o fato passado. Ela perguntou para ele se tinha visto ou ouvido algo estranho, anormal, assustador, sobrenatural na casa. Ele disse que sim. Ela quis saber o que era porque isso lhe motivaria a sair de , mas ele respondeu que o que lhe assustara foi a fatura de água que deu duzentos e dezessete reais, uma verdadeira assombração.

Esse conto é uma reedição.

Bento Sales

30 comentários:

  1. hahahahahaha... Bento, essa assombração me persegue também. E não é só o fantasma da água, tem a luz, a internet, o telefone, etc. Vou me benzer rsrs.
    Ótimo conto. Gostei de ler. Parabéns pela escrita. Um grande abraço e bom domingo

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  2. Uau!! Bento! Será que exorcizar tais contas mensais resolveria o problema? Seu conto me prendeu e muito, pois tenho algo bem semelhante...Ao comprar meu apartamento, o porteiro foi dizendo: - "é a dona de lá morreu"... Respondi: - "mas já tiraram o corpo, né?" ... Isso tudo porque eu comprava direto com o proprietário herdeiro e ele queria "sua comissão"... Tenho receio sim - dos vivos!! Há mais de 20 anos moro no mesmo e sou felicíssima! Nada a ver... crendices mesmo.
    Abraço, Célia.

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  3. Temos que ter medo é dos vivos que são pra lá de "vivos".
    As faturas, despesas cotidianas são verdadeiramente assombrações.
    Abraços, Bento!

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ai ai .. fatura de água!

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  5. Hehehehehehehehe Bentão! Ainda bem que reeditou o conto!
    Divertido e inteligente!

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  6. Oi Querido Amigo!
    Não tenho comentado em teu blog, mas sempre que posso venho dar uma olhadinha...Como sempre muito interessante e atual o teu texto...Gostei muito!Contas e mais contas...è o que todos temos em comum...Um grande abraço!

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  7. Bento Sales

    A história, mais ou menos recorrente, está muito bem contada. Cresce que aprecio muito este tipo de conto.
    Um abraço!

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  8. Bento, a narrativa é intrigante e cercada de mistérios no seu início, mas com fatores que nos leva a refletir também sobre ela. A própria questão da casa pode ser uma delas. Um grande abraço.

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  9. Bento,

    Tudo bem? No dia de finados fui com o meu filho assistir um filme e sem saber muito do enredo, embarquei no longa que se chama Possessão. Após gritos e sustos, pergunto filho, logo hoje esse filme? ele ri e fala, aprenda duvidar dos vivos e nunca dos mortos. Nunca gostei de casa que possui histórias do cotidiano relacionadas a tragédias, mas depois de vencer o filme, acho que estou encarando novas emoções.

    Boa semana e parabéns pelo conto.

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  10. *。¨* ✫ ” ✫. ☽¨¯*。.☆¨*。¯`☆¸.✫˚¯`☆
    Que conto ai meu Deus bem profundo
    mas eu gostei mesmo parabéns por postar
    coisas boas de ler , gostar, ou sentir medo
    Abraços com carinho
    Bjuss
    Rita!!!!
    *。¨* ✫ ” ✫. ☽¨¯*。.☆¨*。¯`☆¸.✫˚¯`☆

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  11. Olá estimado amigo Bento,

    Acabei de ler o teu conto, mesmo agora, e mais uma vez. Antes, no domigo, já o tinha lido duas.
    Parece que quanto mais lemos, mais pormenores vamos encontrando, e descobrindo outros, que não tínhamos visto à primeira leitura. Não sucede o mesmo contigo?
    Se corrigirmos fichas de avaliação, duas vezes, se calhar, encontraremos mais umas "irregualaridadezinhas", acredito.
    E logo, hoje, que tive reunião do Departamento de Português.

    SE EU FALAR BOBAGEM, JÁ SABES A CAUSA!

    Teu conto está primorosamente contado (se eu der erro ortográfico, ao escrever, me avisa, porque estou bastante cansada), com linguagem acessível, corrente, com um ou outro laivo de eloquência, de saber, mas muito raramente.
    Tu escreves para todo o mundo entender. Descreves, sempre, situações engraçadas, verídicas ou não, mas querendo prender o leitor, da primeira à última linha. CONSEGUEGUISTE, CONSEGUES E CONSEGUIRÁS.

    Então a compra de uma "pobre" casa, foi causar todo esse desânimo, recusa e perturbação.

    Afinal, não se tratava de casa assombrada, coisa nenhuma.
    Apenas, morreram lá pessoas, vítimas de um incêndio e nada mais.
    Esclarecidas qe foi a situação do incêndio e dos falecimentos, não haveria motivo para que a mulher do cara de quem tu falas, manter esse receio mórbido, descabido e psicológico.

    As casas assombradas só existem nos cérebros, que têm pouca luz, só nesses.

    Todavia, já ouvimos falar de casas assombrads, tal como dos episódios insólitos e paranormais que DIZEM lá acontecer. Dessas, tenho medo, te confesso, mas são, em geral, castelos medievais ou da Época Vitoriana. Na Escócia/Inglaterra, há muitas histórias, ainda nos nossos dias, sobre essas casas.

    Mas, essa não era assombrada, Virgem Maria!
    Bastava ter percebido e verificado certidões dos falecidos. FOI UM INCIDENTE E PONTO FINAL.

    A Doutrina Espiríta explicar-nos-ia como essas coisas podiam ser possíveis, mas como sou católica, deixo esse assunto para peritos e conhecedores.

    NÂO ACREDITO NA REENCARNAÇÃO, a propósito.

    A imagem de Taci está cheia de cor e alegria. A menina não vê assombração, vê beleza e harmonia.

    Me ensina a comentar um post tão extenso só com uma única frase!

    Resto de boa semana.
    Abraços da amiga Portuguesa, que muito te estima e aprecia.

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  12. Olá, Bento.
    Excelente conto; um misto de mistério, suspense, trivialidade e um final bem humorado surpresa.
    Não acredito em assombrações, acho que o medo do desconhecido leva muitas pessoas a temerem aquilo que só existe em sua imaginação.
    Abraço, Bento.

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  13. Boa, camarada! Quinze anos de economia não garantem o paraíso.

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  14. Bento, se é uma reedição não importa, o que importa é que um Conto magnífico, meus parabéns pela criatividade.
    Abraço.

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  15. Bento caro amigo!

    Concordo com o Paulo...
    Esse tipo de assombração também anda me perseguindo faz tempo, são tantos os talões pra pagar, e a cada dia o valor só dobra, que Deus me livre dessas assombrações...
    Ja tive muito medo dessas casas tipo assombradas, meu pai contava cada história de arrepiar quando eu era criança...Eu dormia com a cabeça tampada de tanto medo, mais depois que a gente cresce o medo evapora,o tempo ensina muito, e a gente começa a ter medo de outras coisas mais reais...
    Hoje tenho medo é dos vivos.

    Adorei Bento seu relato, muito inteligente sua postagem.
    Beijos!
    Grande semana !

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  16. Bento, a pintura da filhota ficou super interessante.Parabéns a ela.
    Gostei da casinha com a lua!
    Abraço amigo!

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  17. Boa noite, Bento. Adorei o seu conto, principalmente o final, uma vez que não esperava por isso e achei uma excelente sacada.
    Creio que todas as orações são bem-vindas para o nosso lar existindo ou não histórico de pessoas mortas no local.
    O medo que a mulher tinha, de fato, era uma neurose já.
    Segundo muitos, vivemos em um mundo espiritual, que muitas vezez não vemos nada, mas os espíritos habitam no mesmo local.
    As pessoas que convivem conosco, essas sim, podem fazer um grande mal ao nosso coração, nossa integridade física, pois o amor em muitos já nem existe mais e o mundo cada vez mais cruel está.
    Fatalidades existem, infelizmente.
    Que os mortos descansem em paz!
    Parabéns e um beijo na alma!

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  18. Matando um pouco da saudade de meu amigo Bento e de sua filhota Taciane!!
    bjs !!

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  19. Boa Noite Meu Amigo.
    Gostei muito da história tão bem contada por você.
    Amiga perdoe a demora em vir no seu blog
    alguns problemas tem me afastado um pouco.
    Linda noite beijos no coração,Evanir.

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  20. Bento, caro amigo!
    Obrigada pelo carinho e as saudades, recíprocas.
    Seguirei te lendo e me atualizando por aqui, no entanto sem a disponibilidade de comentar.
    Grande abraço!

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  21. Bom dia e bom feriado
    O desenho é bem fofinho lindo mesmo
    O texto é muito triste para quem
    crê nessas coisas, a insegurança
    deixa a gente bem preocupado.
    Mas enfim o final acho que deixou ela
    bem mais insegura ainda com a conta tão
    alta...temos que crer e ter fé, pq os
    mortos não voltam mais
    Abraços com carinho
    Rita!!!!!

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  22. Querido amigo Sales]
    O s mortos não faz mal nenhum temos que nos preocupar com os vivos. Mais a história e muita boa.Um feliz feriado.
    Com carinho.
    Ana

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  23. Boa tarde...
    Passo aqui neste espaço para divulgar um novo blog:

    Trata-se de uma oportunidade de trabalhar em casa e ganhar uma renda extra nas suas horas livres. Estou divulgando uma empresa série, honesta e segura, com 14 anos na área de empreendedorismo.

    Para mais informações acesse e confira:

    http://jaynnesantosrenda.blogspot.com.br/

    Obrigada pela atenção,
    Beijos.
    Jaynne Santos.

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  24. Interessante este conto prof. algumas Mulheres é sentimento mesmo né? Quer a casa mas o medofala mais alto; bom de qualque modo o problema foi resolvido mesmo com a superticiosa de plantão o matador de Leões espantava e espantara pelos proximos anos as assombrações da mente dela.
    "Felicidade ao casal" e muita paciencia a ambos.
    Um grande abraço!

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  25. A gente até ri da fatura de água, mas a verdade que tem muita gente como a mulher do seu conto, cheia de crendices e besteiras.
    Lindo conto Bento.

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  26. Seu conto me fez ler tudo, direto. Por isso me surpreendi com o final (rss). Vou confessar que também não gostaria de residir em imóvel onde fora registrada uma tragédia. Vejo muitos filmes de suspense, de terror, sem qualquer medo, mas uma situação como a do seu conto me deixaria angustiada.
    Grande abraço e beijo para a filhota.

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  27. Querido amigo Bento.
    Volto mais tarde para apreciar este conto.
    Um carinhoso abraço.

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  28. Lindo desenho da sua filha!

    Vim aqui conhecer o seu blog e também agradecer o seu comentário na minha participação no 1º Contos e Prosas. Também para mim foi uma honra partilhar a participação consigo!

    Convido-o a conhecer os meus blogs, onde será sempre bem-vindo:

    http://instantaneospretobranco.blogspot.pt/

    http://diasqueolhoomundo.blogspot.pt/


    Abraço

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  29. Caro amigo Bento

    Seus contos sempre tem finais surpreendentes , inusitados.
    Quando penso que vai haver um trágico desfecho petrificador, pois sua escrita vai enveredando por caminhos
    cada vez mais aflitivos, eis que chega o terrível algoz: A conta da água.
    E esta realmente é uma das piores assombrações. Todos os meses também defrontamos com outros fantasmas, conta de luz, conta da Net, Seguros, etc. etc. Existe um meio de desvencilhar-mos destas terríveis assombrações?

    Um bom domingo para vocês. Beijos á pequenina artista que te acompanha com muita graça.


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